quarta-feira, 19 de março de 2014

Poluição sonora: um problema subestimado


Já vai longe a época em que eu inundava a minha cabeça com Metallica. Agora, o silêncio para mim é de ouro – não necessariamente o silêncio total, mas um ambiente que seja o mais livre possível de ruídos mecânicos, elétricos e outras formas de ruídos gerados pelo homem. 

Sinto que posso pensar mais claramente em um ambiente relativamente livre de ruídos e é maravilhoso ouvir sons naturais que não poderia de outra forma. Muitas pessoas não têm essa experiência e acredito que elas não sabem o que estão perdendo.

Infelizmente, nunca ficarei totalmente livre de ruídos devido ao zumbido no ouvido (a percepção de um apito/zumbido constante e vários outros sons) adquirido graças ao tempo que passei entre ruídos industriais – e, acredito, Metallica.

Quando eu era pescador antes do zumbido, tive a experiência que possivelmente seria a mais próxima do silêncio total. Estávamos a mais de 50 km em mar aberto, não havia terra à vista e apenas flutuávamos. Era um dia calmo e tranquilo e o restante da tripulação estava dormindo; os motores e outros equipamentos estavam desligados e não havia um único som de água batendo no casco. Nenhum inseto, nenhum pássaro.

Foi uma experiência e tanto, daquelas que dão o significado real de “silêncio ensurdecedor”. Eu podia ouvir as batidas do meu coração e cada respiração parecia um grito. Mas aquela experiência foi um excesso de silêncio; algum nível de ruído de fundo é necessário.

A poluição sonora, entretanto, é um problema ambiental crescente – é muito mais que uma perturbação, pois possui efeitos negativos bastante reais para os seres humanos (além do zumbido nos ouvidos) e animais.

O efeito do barulho sobre os seres humanos

Em seres humanos, demonstrou-se que a exposição a níveis moderadamente altos de ruídos por um período de oito horas pode aumentar a pressão sanguínea e causar outros problema cardíacos, mesmo se a pessoa não for particularmente perturbada de forma consciente. A poluição sonora pode também causar problemas gástricos. Às vezes, a pessoa nem mesmo percebe que o seu corpo é perturbado pelo ruído até que o barulho não esteja mais presente – ela sente apenas uma sensação súbita de alívio.

A exposição a ruídos excessivamente altos por longos períodos pode também gerar surdez parcial. Cerca de dez por cento das pessoas que vivem em áreas industrializadas apresentam perda substancial da audição e os jovens norte-americanos têm taxa de redução da audição 250% mais alta que seus pais e avós.

O ruído também está na raiz da violência – muitas agressões e assassinatos podem ser atribuídos a questões de barulho que saíram de controle. Quando o ruído é usado para irritar ou prejudicar outras pessoas, na minha opinião, também é uma forma de agressão.

O efeito do barulho sobre o ambiente

Na natureza, os ruídos causam muitos efeitos prejudiciais aos animais e até às plantas. Aqui estão alguns exemplos:

Os pássaros na cidade precisam cantar mais alto e por mais tempo que os seus parceiros do campo.

Os pássaros que dependem da audição para ajudar a localizar presas são seriamente prejudicados pelo ruído industrial.

O barulho prejudica os padrões de alimentação e reprodução de alguns animais e foi identificado como fator que colabora com a extinção de algumas espécies. 

Ruídos de aeronaves e estrondos sônicos foram indicados como causa de redução da reprodução de uma série de animais.

Sonares militares são responsáveis pela morte de golfinhos e baleias – talvez milhares deles.

Mesmo o ruído de motores na parte externa de navios pode confundir algumas baleias e golfinhos.

Em vacas leiteiras, o excesso de ruído reduz o consumo de alimentos, a produção de leite e a velocidade de liberação do leite.

Ruídos aumentam a incidência de abortos em caribus.

Ruídos intensos podem afetar o crescimento das galinhas e a produção de ovos.

Os canários podem sofrer danos à audição em níveis de decibéis relativamente baixos, se o ruído for prolongado.

Também se demonstrou que o barulho possui efeito prejudicial sobre a reprodução de algumas plantas, por interferir com a atividade do polinizador ou de difusão de sementes.

Ruídos de tráfego podem ser prejudiciais para o processo reprodutivo dos sapos em áreas metropolitanas, por abafarem os chamados de acasalamento dos machos.

Quando lulas, polvos e outros moluscos são submetidos a sons de baixa frequência, podem desenvolver-se lesões severas nas suas estruturas auditivas.

Imagine um mundo sem ruídos

Sempre imaginei como o mundo seria mais silencioso se todos os motores a combustão e todos os equipamentos eletrônicos fossem desligados simultaneamente por alguns minutos. Afinal, o ruído na verdade não desaparece. Como toda energia, ele apenas muda de forma ou se dissipa. Assim, mesmo se você estiver no meio do nada, a soma de todo o barulho de origem humana do mundo ainda afeta aquela área? Suspeito que sim, mesmo se em grau baixo, como se apontássemos uma lanterna para a lua. A luz a atinge, mas se difunde tão amplamente que dificilmente pode ser detectada. 

Se todos os motores a combustão fossem rapidamente silenciados, talvez nos atirássemos cegamente em precipícios, em pânico? Certamente é algo a que a maior parte das pessoas que vivem no planeta hoje não estão acostumadas.

Somos criaturas muito barulhentas e os estrondos que criamos em várias formas são apenas outra camada que nos impede de apreciar completamente a beleza do mundo natural.

Está ficando cada vez mais difícil encontrar lugares de fácil acesso que sejam calmos, realmente calmos, onde os únicos ruídos são os da natureza.

O barulho é muito pouco considerado quando se estuda questões ambientais. Temos os dias de “desligar as luzes”, dias “sem carro”… eu adoraria ver uma iniciativa de hora “sem ruído”. Infelizmente, a maior parte das pessoas não sabe o que é o silêncio e, se não ensinarmos nossos filhos, eles nunca apreciarão o conceito de uma experiência livre de ruídos.

Nossa reação habitual ao lidar com ruídos é agregar mais ruído – ligando a televisão ou gritando, por exemplo. Simplesmente não sabemos o que estamos perdendo e não sentimos falta do que não conhecemos.

Faça sua parte na redução do barulho

Todos podemos fazer algo sobre os ruídos. Seja consertando um abafador com defeito no seu carro, diminuindo um pouco o volume da nossa música para que os nossos vizinhos não precisem ouvi-la ou esforçando-nos quando estamos no campo para não gritar sem necessidade. 

Aqui estão algumas outras dicas para redução dos ruídos:

O toque de telefones celulares perturba muitas pessoas. Mantenha o seu no nível mais baixo praticável.

Se você precisa elevar a sua voz para conversar, algo está errado; observe as fontes de ruído à sua volta sobre as quais você tem controle.

Ensine seus cães a não latirem desnecessariamente por longos períodos. Latidos de cães têm forte presença nas discussões entre vizinhos.

Estabeleça um tempo de silêncio na sua rotina doméstica.

Esforce-se para manter o ruído em níveis mínimos à noite e no início da manhã, pois essas são as horas em que as pessoas estão tentando relaxar ou dormir.

Acredite, muito poucas pessoas querem ouvir a sua música, não importa o quanto você goste dela. Existem outras formas de manifestação social que provavelmente são mais eficazes e terão resposta mais positiva.

Se você quiser aumentar o volume do seu som, verifique se as portas e janelas estão fechadas e reduza os níveis de grave, pois os graves atravessam até paredes de tijolos com muita facilidade.

Se o seu estilo de vida for particularmente turbulento, estude o plantio de mais arbustos e árvores em volta da sua casa. Isso não apenas reduzirá os ruídos que afetam seus vizinhos, mas também fornecerá abrigo e alimento para os animais (se eles conseguirem tolerar os estrondos) e também desempenhará papel na redução dos gases do efeito estufa.

Trocar um abafador de carro ou motocicleta por algo que aumente substancialmente o ruído não é bom; é egoísta e irresponsável. Um carro de quatro cilindros ainda parecerá um carro de quatro cilindros que agora está tentando ser algo que não é. Motocicletas com este tipo de modificação poderão atrair o tipo errado de atenção e escapamentos barulhentos perturbarão a fauna em uma ampla distância.

Como ensinar nossas crianças sobre o silêncio

Se você tem filhos, leve-os para bosques ou florestas, o mais longe possível da atividade humana e faça com que eles sentem e apenas ouçam por alguns momentos. Isso poderá não ter muito efeito sobre eles no momento, mas é algo que eles poderão lembrar com carinho anos mais tarde – um ponto de referência de como deveria ser uma vida mais harmoniosa com o meio ambiente. E faça isso você mesmo de vez em quando. Pode ser uma experiência de grande alívio nesta existência que está se tornando cada vez mais complicada.


Michael Bloch
Green Living Tips é uma fonte de informação online em inglês alimentada por energia renovável que oferece ampla variedade de dicas amigas da terra, guias verdes, conselhos e notícias relativas ao meio ambiente para ajudar consumidores e empresas a reduzir custos, consumo e o impacto ambiental.

O artigo original em inglês está disponível neste link

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