quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O ônibus quebrou

Todo ano eu vou visitar meu pai no interior de São Paulo. Sempre fui de ônibus e nestas viagens sempre acontece algo que me desagrada. Crianças chorando, puta cheiro de coxinha de posto de gasolina exalando óleo queimado e frango cozido, salgadinhos cheiro de sovaco, chulé dos manos que tiram o tênis, além das poltronas apertadas. 

  Entretanto, teve uma viagem que foi uma sequência de merdas, o rolê levou mais de 18 horas para terminar, normalmente leva 8. A porra do busão da Motta quebrou três vezes, a primeira em Rolândia uma cidade que parece cidade fantasma depois da meia noite, não tinha nada aberto e ficamos parados lá uma hora. Arrumaram o bumba, a viagem continuou, mas pouco tempo depois o negócio estourou de vez numa cidade menor ainda chamada Chupador quase chegando em Ponta Grossa.

  A sorte é que onde o ônibus deu game over tinha uma venda aberta de beira de estrada próxima e o motorista já soltou na lata: "Passageiro vai demorá bastanti, o motor está com probrema, vai ter que vim otro ônibus". Daí uma galera partiu para esse lugar.

  Rodovia num breu total, lugar meia luz, pernilongo pra caralho, música romântica de motel tocando na rádio, todo mundo com cara amassada e exaustos da longa viagem no comboio do terror. No entanto, aquele pico tava salvando a galera, comecei a tomar umas brejas com um casal de estudantes de Curitiba e a conversa incrivelmente não caiu "Será que hoje chove? Será que amanhã vai fazer sol?".

  Então do nada surge uma polacona, chumbada de pinga, com as bochechas rosadas, branca para cacete, loira, calça moletom suja de terra, camiseta do Beto Richa para prefeito, gritando coisas sem nexo e quase é atropelada por um motoqueiro no acostamento da rodovia. O dono do lugar já deu um berro: "Val vai pra casa Val!" A mulher tava no mundo dela e resmungava palavras incompreensíveis. Daí uma mina comprou uma garrafa de água e foi socorrer ela, tentando ajuda-la, aparentemente ela não queria ser ajudada e sim tomar mais goles. Passados alguns segundos surge um moleque de uns 17 anos com um pedaço de pau na mão e uma mina de uns 14 anos. O cara do moleque era de muito ódio e da mina de "mundo melhor não existe". O moleque pegou a tia pelo braço brutalmente e começou a levar ela como você leva um saco de lixo. A mina que comprou a água quis interferir, mas o dono do lugar falou "Não mexe com isso que vai sobrar pra você". Daí uma amiga puxou ela para trás. Alguns passos à frente a mulher se esborracha de cara no chão e o moleque fica mais agressivo ainda e dá uma paulada nas coxas e grita "Bebe pinga sua filha da puta!" A mina mais nova puxou os cabelos da mulher na tentativa de levanta-la. Todo mundo horrorizado, era um contraste muito violento entre a galera do busão e aquelas três pessoas dos arredores de uma cidade minúscula. Em poucos minutos eles sumiram na escuridão.


   Antes de ir embora perguntei pro dono: "É família?" O cara responde: "Sim, mãe e filhos, é quase todo dia isso." O ônibus chegou e eu fiquei puto porque o dono daquela desgraça queria e cobrou 9 reais numa Antártica que nem estava tão gelada assim.

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