segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um olhar no imaginário fascista na música industrial e experimental.


Como já postado aqui, este tipo de música/som/gênero esta repleto deste imaginário, tanto explícito como implícito. Músicos experimentais, principalmente Throbbing Gristle, usaram a simbologia do fascismo, alegando que eles desejavam desafiar preconceitos e criar um público com a cabeça mais aberta. O punk fez uso extensivo da suástica como parte de sua rejeição niilista de valores estabelecidos da sociedade, eles sentiam a necessidade de explorar o inaceitável, a fim de expressar adequadamente o seu desgosto com o mundo no qual estavam inseridos. Vítimas do que eles viam como agressão autoritária, eles responderam, instintivamente, refletindo a violência social na forma de um choque antissocial.
A banda avante-garde Laibach adota uma aparência de totalitarismo para explorar tanto nossa sociedade autoritária quanto a natureza, também autoritária, do "rock". Muitas vezes acusados de serem fascistas, a ampla utilização do humor irônico produzido pela banda, age como um lembrete de que eles não são o que parecem. O grupo usa símbolos tanto do nazismo e da religião, e são claramente defensores da ideia que para você destruir o Estado é necessário primeiro entrar e compreendê-lo.
Outros projetos não usam um imaginário superficial do fascismo, mas incorporam o verdadeiro Ethos da ditadura na tentativa de provocar uma resposta e expor os mecanismos de controle. Um exemplo inclui o projeto NON, que no início dos anos oitenta tocava música rítmica extremamente alta. O público tinha a opção de fugir ou aceitar e explorar o prazer da submissão.
Muitos grupos de Hardbeat têm um estilo militar em sua adoção de disciplina extrema, e uma replicação de tiques fascistas durantes as apresentações. Levando em conta que a maioria deles professam ser contrários à ordem social existente, ainda assim, gastam bastante tempo replicando seus estilos e símbolos. Bandas como Manufacture, Front242, entre outras, usam ritmos militares, juntamente com trechos religiosos. Assim, apresentam os dados brutos de suas info-ambientes sem comentários. Nós "esperamos" que para entender essas bandas, aceite ou não, embora essas bandas parecem ser fascistas, elas são na verdade uma oposição ao fascismo. Inevitavelmente, elas atraem os neonazistas para este tipo de música quer goste ou não. Até mesmo socialistas como Test Dept têm sido descritos como "bandidos da nova esquerda", devido à raiva e apresentações violentas.

Outros são mais duvidosos, Death in June que em seus álbuns inserem caveiras, imagens rúnicas e estilos paramilitares, e antes usava roupas militares nazis. O amor de gestos aparentemente fascistas se estende até o que Death in June carinhosamente descrevem como "O sonho europeu", uma supernação pancontinental. Dependendo do seu ponto de vista isso pode parecer um objetivo nobre, uma insanidade de direita, ou apenas um pedaço particular de ingenuidade do romantismo. Dentro desta seara musical temos também Whitehouse e sua gravadora Come Org uma retórica suficientemente extrema, não só em público, mas também no privado que mesmo para a consciência liberal mais indulgente é permitido duvidar. O racismo flagrante de Willian Bennet no Whithouse parece ter poucas pretensões de ser uma crítica cultural sofisticada, apesar da ilusão de muitos fãs*. Os eventos ao vivo do Whitehouse eram frequentemente envolvidos em grandes doses de abuso racial, alienando muitos daqueles que eram suficientemente liberais. E há outros: artistas da cultura cassete como o grupo AWB, racistas de extrema direita, que optam em trabalhar no mundo da eletrônica experimental e Con-Dorn, um projeto solo das ilhas britânicas que explora temas de controle e domínio por meio da utilização de uma parede primitivista de ruído. A cultura underground de cassete contém numerosos exemplos de artistas que exploram este tipo de território, ao mesmo tempo que é uma expressão válida, tudo começa aparecer sem imaginação como após um tempo ficou comprovado.
Como o T.G. mostrou claramente, o nazismo tem uma superfície muito elegante. O preto, vermelho e a prata fazem um esquema de cores muito atraentes, a insígnia fascista são símbolos extremamente poderosos. O imaginário pode ser rastreado até ao movimento futurista italiano, com seu amor pela arte impressionante e dinâmica. Muitos que usaram a suástica como Jim Thirlwell, do Foetus, explica seu uso apenas em termos de um desejo de usar recursos visuais que ele gosta e acredita que sejam psiquicamente ressonantes. Mesmo mais de quarenta anos depois que os Aliados alegarem o fascismo estar morto, a imagem mantém o seu fascínio. O extremismo de qualquer tipo reverbera no fundo de nossa psique; ele toca partes do inconsciente que as filosofias mais moderadas não alcançam.
E, claro, os punks nos lembram do quão provocativo a suástica permaneceu depois de muitos anos. Jogando a própria merda de volta a garganta do establishment vigente tendo a certeza de resultar em uma reação de náuseas. Para grupos com propósitos de ultrajar a sociedade, o fascismo era uma arma poderosa. A ideia era fazer isso mesmo, ou seja, os únicos métodos que você tem são os que as autoridades te ensinaram.

É discutível se essas táticas foram sempre produtivas. Certamente elas não mudaram o sistema, e muitas vezes apenas reforçaram desejos repressivos. O desejo de choque parecia frequentemente nascer de uma rejeição de uma sociedade do que qualquer alternativa positiva. "Mamãe não nos deixará tocar então iremos gritar" - isso é tudo o que essas provocações atingiram, às vezes. Nosso ambiente é desagradável e destrutivo, mas como os gritos das crianças, nós não sentimos que temos o poder de fazer algo sobre isso. Assim, o niilismo é a única opção viável, repousando sobre uma falsa premissa. Nós não somos impotentes, e aceitar o que somos e não fazer nada, ficar reclamando, só pode retroceder as nossas chances de realizar nossos verdadeiros desejos. Niilismo é contra-revolucionário, incapacitante, e nessa medida a adoção generalizada do imaginário fascista como uma estratégia de choque esta condenada ao fracasso. Além disso, ao adotar as táticas violentas do opressor, os punks e outros manifestantes, começaram a perceber que eles não tinham alternativas para oferecer, validando assim a opressão inicial. O Estado autoritário prospera em rebeliões violentas, usando-a como sua própria justificação.

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