quarta-feira, 14 de maio de 2014

Retrato diário

Acorda e toma o café adulterado, açúcar droga com pão industrializado de sódio. Sai para trabalhar com a cabeça semiacordada e as tripas intestinais abarrotadas de lixo industrial.  Pega o ônibus superlotado consequência da ausência de políticas públicas de mobilidade.
Bate o ponto.
Já mais desperta, com o estômago produzindo as doenças do futuro, começa a falar da vida alheia, sua principal fonte de prazer já que com sua pança e doenças o sexo tornou-se distância, práticas físicas só na televisão.
Agressiva, semidemente, acredita em Deus, no estado e na família. Foi assim que o curral educacional fruto da ignorância profunda a ensinou. O mesmo curral que forneceu um vocabulário limitado, um desinteresse pela cultura e ódio generalizado ao conhecimento.
No bairro-dormitório, cidade dos porcos, pessoas hidrogenadas confundem inteligência com canalhice, picaretagem com vencer na vida.
Amanhã, infelizmente, será outro dia.

Até o dia que não terá mais amanhãs. 

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