segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Entrevista: Kevin Drumm

Sei que estamos em 2011, mas ainda existem pessoas que falam que o que você faz é só barulho, e não música?

Não de uma maneira agressiva. Outro dia eu estava na minha cozinha com um CD do Phill Niblock tocando no boombox. A irmã da minha namorada estava lá, e ela perguntou inocentemente, “essa é a suam música?”. Disse que não, então ela perguntou, “o rádio está ligado tocando estática?”. Eu disse, “não, é um CD”, e ela perguntou se havia algo de errado com o CD. Ela meio que fingiu ficar intrigada com a ideia de aquilo ser a minha música, e então pareceu aliviada ao saber que não era, e imediatamente assumiu que havia algo de errado com o aparelho. Pelo menos ela não disse “PFFFFT! Eu poderia fazer isso dormindo”.

Noise é um tipo de música que muitas vezes precisa de uma atenção concentrada do ouvinte, não é o tipo de coisa que vira “música de elevador”. O que significa produzir esse tipo de música em um mundo onde as pessoas andam tão dispersas? Você está lutando contra um mundo em estado de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade)?
Antes de tudo eu estou lutando contra o meu próprio TDAH. Também acho que muito do noise que supostamente deveria ser considerado irritante/abrasivo ou extremo (blá, blá, blá...) é na verdade muito tranquilo de se ouvir. Muito disso é puro “ruído branco”, e é a coisa mais tranquila de se ouvir. É o som do oceano. Nos anos 70 haviam empresas que vendiam pequenos geradores de ruído branco para ajudar as pessoas a dormirem!

John Cage chegou a chamar a música de Glenn Branca de “fascista”, e, ao mesmo tempo, Jacques Attali escreveu um livro inteiro defendendo o ruído como um poder subversivo. Você vê a sua música como uma arma ideológica?
Ha! Não, eu adoraria que a minha música fosse uma arma. HA. Não sabia que John Cage havia chamado Glenn Branca de fascista, isso é interessante... e estúpido. Eu dei  uma entrevista para um site brasileiro esses dias em que o entrevistador me perguntou sobre minhas colaborações ao vivo com Radu Malfatti e Lucio Capece. Radu, se você não conhece, é um artista bem interessante, e você poderia dizer que ele é o exato oposto de Glenn Branca, a música dele é extremamente quieta, a antítese da agressão musical. Dez anos atrás um conhecido meu estava me contando sobre uma apresentação de Radu Malfatti que tinha assistido. Ele disse que foi como voltar para o colégio interno, e a sua expressão exata para descrever Radu foi a mesma, ele chamou o músico de fascista, porque a plateia era “forçada” a ficar em tamanho silêncio (apesar de eles não terem sido “forçados” a nada, na real) que ele se sentiu compelido a se sentar quieto, e isso foi muito desconfortável para ele. Eu entendo a situação, mas se você não gosta de algo, está livre para partir. Ficar chamando os outros de fascista assim é algo tolo para mim.

Discos como Imperial Distortion e Imperial Horizon, com aqueles drones lindos e espectrais, parecem uma separação do “não tão agradável” som de trabalhos como Sheer Hellish Miasma. Não é uma sinfonia, mas é algo mais imersivo e viajandão. O que você está tentando explorar com esses drones?

Eu não sei, essas músicas mais ambiente são algo com o que eu me envolvi erraticamente por um longo tempo. Elas são o que são. Não são feitas para fazer você admirar o pôr do sol ou coisa assim.

Bruce Russell, do dead C, chamou a atenção sobre o estado de sua guitarra em um texto recente sobre a capa de seu disco de 1997 Kevin Drumm. Você trata seu instrumento tão mal assim?
A guitarra já estava mau estado quando a comprei em 1989, mas sim, eu trato ela bem mal.

 A primeira vez que você esteve no Brasil foi com a Exploding Star Orchestra. Qual você acha que é o papel do noise em uma orquestra?
Se você está perguntando especificamente sobre a Exploding Star Orchestra eu não tenho muita certeza. Creio que eu fui trazido para adicionar algo de “outro elemento / texturas” para os procedimentos. Só havia tocado com a ESO uma vez e não estava familiarizado com a música deles, foi um desafio tocar no Brasil, eu não conseguia incorporar meu som com o que eles estavam fazendo, não havia muito sentido em tentar fazê-lo e eu percebi isso em algum momento da nossa primeira apresentação. Eu acho que o convite foi apenas algo que o Rob Mazurek pensou, ele queria que eu participasse do grupo e tocasse o que eu quisesse.


Fonte: http://www.maissoma.com/2011/8/16/kevin-drumm

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