quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cama desfeita


Acredito que quem gosta de música experimental não se deve queixar do cenário brasileiro. Pois mesmo que tímido, o cenário tupiniquim sempre teve seus expoentes nas mais variadas vertentes.
Entre tantos, podemos citar os trabalhos iniciais da curitibana Jocy de Oliveira que vitaminou o cenário da Bossa Nova e samba com o disco “Música do Século XX”, trabalho datado de 1959. Da mesma autora vale citar o álbum “Estórias para voz, instrumentos acústicos e eletrônicosde 1981, sendo este uma mistura da brilhante Fátima Miranda com música eletrônica e eletroacústica, e pode-se considerar sem vacilar algo bem mais psicodélico do que grupos do porte de Pink Floyd.
Na seara considerada música popular e erudita não faltam nomes, por exemplo, Arrigo Barnabé, Tom Zé, Hermeto Pascoal entre outros, são figuras distintas. Lembrando que o arcabouço cultural dos supracitados é tão elástico que existem obras que podem ser consideradas MPB e outras completamente indomesticáveis.
Indo para o fundo do poço musical, ou seja, música subterrânea, o país também não deixa a desejar. Basta lembrarmos-nos da ótima banda já extinta Rotten Anger de Londrina-Pr que no início da década de 90 se propunha a fazer muito barulho com o mínimo de melodia. No mesmo gênero, em São Paulo-SP, tivemos a doentia banda intitulada Rattu Morto, misturando Daminhão Experiença com punk e noise.
O número de bandas, talvez, sempre se manteve igual, pois da mesma forma que surgiam novas bandas outras eram extintas. Na terra das araucárias existe até hoje uma banda que é referência em noise-eletrônico, o duo Gengivas Negras, surgido há quase vinte anos e que continua trazendo seu ar claustrofóbico em festas que vão desde a cena eletrônica comum até o meio punk.
Partindo desta introdução deseja-se falar brevemente de um projeto recente de Gustavo Paim e Aline Vieira, o Cama Desfeita. Surgido no início deste ano já soltaram dois discos amoedados de “Falam de um desconforto entre os dedos” e “Obrigado por mentir”. O duo atravessa os caminhos sorumbáticos da música drone, ambiente e eletrônica.
Os dois também são responsáveis pelo selo/coletivo “Meia vida” que se propõe a lançar artistas não convencionais seja de música, imagem ou palavra. O selo em breve lançará o projeto Jejum, este de sonoridade melancólica misturada com o clima dos últimos trabalhos do Prurient.
Cama desfeita perpassa pela história da música sem rótulos, pois qualquer inoculação nos limita a gêneros e isso poderá cortar o poder imaginativo que a audição gera. Mas a fim de referenciar o projeto podemos mencioná-los como oriundos da proezas noisísticas da banda Boris, do mesmo caldo cultural do projeto Ekoplekz e surfando no automatismo de Merzbow.
Enfim, algo para ser degustado nos mínimos detalhes, pois cada audição nos aventuramos em elementos novos, um reencontro com nossa natureza de exames subjetivos. 

Bandcamp

Nenhum comentário:

Postar um comentário