Iniciou-se o presente
procedimento através do Boletim de Ocorrência nºxxxxxxx e demais peças que o
instruem, pois, em 16/05/2018 , compareceram nesta unidade policial as
testemunhas G. e F., informando que, desde o dia 24/04/2018, não conseguem
contato telefônico nem pessoal com sua irmã Z., moradora da avenida x, nº xx,
bloco x, ap. xxx, Rebouças, Curitiba.
Diante da conduta suspeita do
sobrinho, as testemunhas acionaram a Polícia Militar. No local, os policiais
sentiram odor pútrido, bem como cheiro de maconha. Eles, então, invadiram o
apartamento.
No interior do imóvel, estava
apenas T.. A casa encontrava-se toda desarrumada. Havia velas, copos, incensos
e pontas de cigarros de maconha. Como as desculpas e respostas do rapaz eram
desconexas, foi acionado o Dr. P., delegado do 1º Distrito.
A autoridade determinou a
preservação do local, acionando a equipe de perícia do I.C. de Curitiba.
Preliminarmente, o perito criminal encontrou alguns objetos como tampas de
vaso, faca, martelo, corrente e amostras de sangue na soleira do banheiro e no
tapete. Foram apreendidos ainda cartões de banco e comprovantes de compras
feitas nos últimos dias, além de um caderno universitário com várias anotações
de T..
Foi verificado que, ao longo
do tempo de desaparecimento de Z., o filho apresentou comportamento estranho e,
toda vez que era questionado sobre o paradeiro da mãe, dava uma versão
diferente.
Por causa da conduta de T. e
das possíveis manchas de sangue, foi representada pelo delegado P. a decretação
da prisão temporária do rapaz junto ao Plantão Judiciário, o qual expediu
mandado de prisão temporária por 30 dias, a partir de 16/05/2018.
As vizinhas, Sra. I. e Sra. M,
que eram amigas da vítima, em resumo, afirmaram que, a partir do dia xx/04/2008,
não viram mais a Sra. Z. e sabiam que o filho desta era pessoa de comportamento
estranho. Tal comportamento agravou-se após o desaparecimento da mãe. O jovem
passou a fazer uso frequente de desodorizadores de ambiente Bom Ar, mesmo
saindo do interior do apartamento odor fétido. Os porteiros do condomínio J. ,
U., A. e F. afirmaram que T. saiu um dia, à tarde, com duas mochilas. Após
algumas horas, retornou sem elas. Ainda disseram que era frequente ver T.
jogando pequenas sacolas na lixeira do prédio.
No apartamento, a perícia
utilizou um produto da marca "Bluestar Forensic", sendo este reagente
a sangue. Isso revelou a presença da substância nos rejuntes dos pisos e rente
ao batente do banheiro, no mesmo ponto da soleira. No total, foram localizados
14 pontos de reação com sangue, sendo que eles estavam no quarto de Z., no
banheiro, no hall entre os quartos e o banheiro, no corredor da saída do
apartamento, no hall externo do apartamento, na porta e no interior do
elevador.
Pesquisas junto ao IML de Curitiba
constataram que, em data posterior ao desaparecimento da vítima, foi
localizada, às margens do Canal Belém, uma mão humana, conforme boletim de
ocorrência nº xxxxxxx, registrado no 5º DP de Curitiba. No depoimento do
policial militar que atendeu a ocorrência, consta que a mão foi encontrada em
estado de putrefação, mas que, pelas suas características, poderia ser a mão de
uma mulher.
O IML informou que a referida
mão já havia sido sepultada, sendo retirado dela um fragmento ósseo para exame,
haja vista que foi impossível colher impressão digital.
Foi então solicitado um mapa
da região junto à Secretaria de Obras de Curitiba, no qual foi constatado
conexão espacial entre os córregos próximos à residência da vítima e o local
onde foi localizada a mão humana. Também foi solicitada e recebida a
autorização do 5º DP para a utilização do fragmento ósseo na investigação.
Os objetos apreendidos no
apartamento da vítima, bem como o fragmento ósseo, foram encaminhados ao
Instituto de Criminalística Sede para exame de DNA, sendo utilizado para
confronto sangue fornecido pela irmã da vítima e sangue fornecido por T., filho
da vítima temporariamente preso nesta unidade.
A prisão temporária de T. foi
prorrogada por mais 30 dias, sendo a partir de 12/06/2018.
T. confessou espontaneamente
ter tirado a vida de sua mãe Z., tendo, inicialmente, a agredido com socos no
rosto e, depois, a facadas. Posteriormente, ocultou o corpo da mãe,
esquartejando-a e jogando as partes no canal Belém, próximo à sua residência.
O interrogando informou que,
no domingo, dia 26/03/2018, depois do meio dia, estava sentado em seu quarto,
na cama, e viu uma luz verde. De dentro dessa luz , viu um vulto. Era o
espírito de sua mãe, que o ameaçava. Dizia que iria matá-lo e cortar sua
cabeça. O espírito ainda agrediu o interrogando, chamando-o de "filho da
puta". A fisionomia do vulto era semelhante à de um demônio.
Há tempos T. sentia que iriam
fazer algo de mal contra ele. Por isso, escondeu uma faca na parte de trás do
sofá. Após ver o espírito dentro da luz verde, percebeu que a única maneira de
se salvar seria matar sua mãe, para que o espírito dela não o matasse. O
interrogando então pegou a faca do sofá e colocou em cima da televisão de seu
quarto, que é próximo ao corredor. Ele premeditou o fato: primeiro daria socos
no rosto da mãe para que ela desmaiasse, depois a retiraria do quarto e cortaria
a cabeça com a faca, que estava em cima da TV. Foi isso que T. fez. A porta do
quarto estava aberta e sua mãe dormia, entre as 10h e 12h do domingo, deitada
de lado e encolhida, vestindo camisola branca e calcinha preta. Foi quando o interrogando
ficou ao lado da cama e começou a desferir vários socos no rosto de sua mãe.
Aproximadamente sete ou oito, fazendo-a sangrar a região do olho. Ela começou a
gritar por socorro. Por isso, T. tampou sua boca, agarrando a cabeça com a
outra mão e arrastando-a da cama para o corredor, até a porta de seu quarto.
Foi quando o rapaz pegou a faca sobre a televisão, agachou ao lado de sua mãe
e, segurando a cabeça dela pelos cabelos, começou a degolá-la, passando a
lâmina rapidamente e com força em seu pescoço, para que parasse de gritar e
agonizar.
Muito sangue jorrou, mas T.
empurrou a cabeça com o pescoço cortado para o interior do banheiro, onde a
limpeza seria mais fácil. A mãe se debatia muito, mas, pouco a pouco, foi
sossegando e ficou imóvel.
O rapaz então seguiu seu
plano. Com a faca, separou a cabeça do corpo. Degolando a mãe por completo.
Respondeu que, enquanto cortava a cabeça, ouvia sons similares a grunhidos,
saindo da boca e do pescoço.
Quando chegou na região da
coluna, girou a cabeça em sentido contrário para facilitar o corte final,
separando-a por completo. O interrogando estava com muita raiva da mãe.
Arrastou o cadáver para dentro do box e, imediatamente, começou a cortá-lo com
a faca. Quebrou as juntas das pernas, forçando os membros com as mãos. Enquanto
fazia isso, socava e pisoteava o corpo. Sua raiva era realmente muito grande.
De repente, lembrou-se do que
leu sobre anatomia, no livro de Wander Graaf - havia estudado durante um ano
para ser tecnólogo em radiologia médica. Disse que, como era necessário muito
esforço para cortar e separar as partes _ e sua preocupação em dar sumiço à
vítima era grande, foi cortando-a aos poucos. Começando, se não lhe falhe a
memória, pelos braços. Depois de tê-los cortado, T. os botou em um saco plástico.
Escondeu parte dentro da calça, parte sob a camiseta. Para disfarçar, usou uma
blusa de tac-tel azul-marinho e saiu com os dois cães poodle. Deixou o prédio
pela portaria. Subiu a rua, virou à direita, desceu para a rua de baixo e
chegou ao canal. Onde rasgou o saco e jogou os membros. Enquanto fazia tudo
isso, fumava maconha.
Durante alguns dias, o
interrogando usou o mesmo procedimento. Livrava-se de pedaços da mãe fumando um
baseado e passeando com os cachorros. No apartamento, para que o cheiro não
ficasse muito forte, acendia o incenso "Cristo" e outros. Também
usava "Bom Ar". Relatou que, quando cortava o corpo, deixava o
ventilador e chuveiro ligados. Para que, além de limpar a sujeira, o cheiro
também se dissipasse.
Quando o rapaz chegou ao
tronco, abriu a barriga e pegou as vísceras e os órgãos. Pouco a pouco, foi
fritando-os "em panelas pretas, até secar" com óleo de girassol.
Depois, deixava tudo esfriar e colocava em sacos de lixo. Que jogava na lixeira
do prédio.
Ao fritar os órgãos e as
vísceras, fechava a porta da cozinha, acendia vários incensos, usava Bom Ar e
borrifava talco pelos quartos. Limpava o sangue com panos e jornais. Às vezes,
jogava os jornais sujos de sangue no córrego, junto com os pedaços de corpo.
Não se lembra bem de quando
jogou a cabeça no rio. Se no início do esquartejamento, no meio ou no fim. Este
"trabalho" durou cerca de sete ou oito dias.
O interrogando pensava em tudo
para não ser pego. Não se livrou do corpo em dois dias porque poderiam
suspeitar de saídas constantes. Disse, inclusive, que colocava os membros e as
vísceras fritas em sacos de supermercado virados do avesso _ se alguém os visse
em alguma lixeira, não identificaria de que mercado eram.
Respondeu que sua mãe mantinha
um armário trancado com corrente, tendo em vista que sempre furtava dinheiro
dela para comprar maconha. Como a mãe já estava morta, o rapaz arrombou o
armário e pegou os cartões. Fez duas compras nos supermercados Condor e
Carrefour. A mercadoria que comprou no último, levou para casa de táxi.
Adquiriu, principalmente, produtos de limpeza, cosméticos e Bom Ar. Também um
par de luvas amarelas, que usava tanto para esquartejar o cadáver quanto para
lavar a louça.
O rapaz diz que pensava na mãe
e até chegou a acender um incenso Cristo no quarto dela. Mas como ela e seu
espírito iriam matá-lo, achou melhor matá-la primeiro. Por isso acredita que
não cometeu crime e agiu em legítima defesa, já que sofria agressões
"verbais e espirituais". Alega que fez tudo sozinho, não havendo
participação de ninguém. Que inventou várias versões de uma história sobre a
mãe ter ido viajar e escreveu tudo em um caderno, para ler no caso de pessoas
perguntarem a respeito dela. O telefone foi desligado da tomada.
A relação entre o interrogando
e a mãe era de amor e raiva. Ela era uma boa pessoa. Fez tudo pelo filho no que
diz respeito a estudos, comida e carinho. Mas era uma muito controladora. Não o
deixava ter amizades. Controlava o horário para evitar que ele usasse maconha.
Não lhe dava dinheiro, pois sabia que poderia comprar a droga.
T. ainda diz que a mãe bebia.
Ficava quase todo dia deitada e bebendo. Em festas, era sempre vexame. O
interrogando se sentia mal quando via a mãe bebendo na frente dos outros. Mas a
maior raiva que tinha dela era por não entendê-lo "espiritualmente".
Diz que tiveram várias discussões porque queria dinheiro para seguir sua vida,
ter uma namorada, ser independente. Mas ela não lhe dava. E ele queria um
apartamento para morar sozinho.
Reconhece que sabia que sua
mãe possuía um seguro de vida, do qual era beneficiário, em torno de cem a
duzentos mil reais. Afirma que não a matou por causa desse dinheiro, mas, se
recebesse o valor, iria usá-lo. Diz também que pegou as fotos que estavam na
estante da mãe, com ele e outras pessoas, e recortou as partes em que ela
aparecia, pois, como já a havia matado, não precisava de suas fotografias. Além
disso, queria fazer um novo mural, sem sua mãe.
O interrogando jogou fora os
objetos da casa de cor preta e vermelha, pois não gosta dessas cores. Responde
que comprou novos tapetes porque, após ter matado a mãe e se livrado do corpo,
queria começar uma vida nova. Nega estar arrependido do que fez porque
"não tem do que se arrepender" e diz que faria tudo novamente.
Segundo ele, a mãe atrasava sua vida, privava-o de ser feliz, pois não lhe dava
dinheiro para comprar um apartamento e um carro como um "Golf ou um
Toyota".
T. pretende agora tocar sua
vida para frente. Como o acontecido foi longo e cheio de detalhes, ele se
dispôs a ir até o local. Lá, mostrou tudo que fez e como fez.
O indiciado T. foi interrogado
em aditamento e respondeu que, logo após ter decapitado a mãe, retirou os dois
olhos dela com uma faca. Um dos olhos foi furado. Deixou os dois dentro do box
do banheiro. Iria guardá-los de recordação. Mas acabou fritando-os na panela,
como fez com os outros órgãos e vísceras. Afirma que não comeu nenhum pedaço.
Jogou tudo fora com o restante do corpo, após ter secado.
Ele se recordou do que fez com
a cabeça da mãe: lavou-a, secou e colocou em um saco do supermercado Goez. Depois escondeu sob a camiseta e a jaqueta azul. Como ficou um pouco barrigudo,
encolheu a barriga, curvou os ombros para frente e foi até o córrego com os
dois poodles. E jogou a cabeça de cima da ponte.
Em relação ao tronco, diz que,
após ter retirado os órgãos e vísceras, ficou oco. Restou apenas a carcaça da
caixa torácica. Depois de tê-la embrulhado, também jogou no rio, arremessando-a
de cima da ponte. De acordo com ele, o embrulho ficou encalhado em algumas
pedras do córrego. Após ter retornado para casa, ficou pensando em voltar lá e
desenroscar o embrulho. Porém, durante a noite, choveu muito. No dia seguinte,
quando retornou ao local, a correnteza já o havia levado.
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