quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sobre comentários, morte e faxineiro.

Construam presídios no Amazonas sem celulares, só com Bíblias! Pela destruição de praças e parques para construção de estacionamentos! Matem esses vagabundos! Árabes são pessoas que usam fraldas na cabeça? Linchem estes vagabundos até a morte! Parabéns, policiais, por descerem o dedo!

Todo esse emaranhado de rótulos simplistas, deterministas e reacionários que você encontra em qualquer sítio brasileiro de notícias (lembrando que haters estão em todo o espaço virtual) é fruto da visão alienada, distorcida e mau-caráter da mídia brasileira. Geralmente as mídias de massa.
Todas as mídias populares juntas fabricam realidades antropofóbicas, afobam-se em inventar, desvirtuar, denegrir, inserir preconceitos e vender uma ideologia. Ideologia que considera todos os pobres vagabundos e criados, ativistas drogados e meliantes, a lista é longa. A grande mídia informa geralmente o que não interessa pra tua vida, desfoca tua atenção dos problemas reais.
Às mídias, não bastassem supervalorizarem mulheres semelhantes às travestis de tanto anabolizantes e peles mais lisas que de uma enguia, homens enormes e patetas cor cenoura e bronze sorrindo pras paredes, homossexuais como gente resolvida, feliz e rica, os meios de comunicação no Brasil entulham nossas cabeças de sensacionalismo com um só objetivo: não informar você de porra nenhuma, tornando-te um paranoico misantropo infeliz.
Enquanto noticiam um americano que pagou cem mil reais para enfiar espada no próprio reto, mais um acordo econômico é assinado e amanhã o quebra-quebra vai fechar na Vila Bakunin -  mataram mais um pobre - mas a pauta de hoje é falar do arroz duas saúdes. 
Entre uma nova receita de palmito e o espancamento indiscriminado de ativistas o melhor é falar do palmito. A mídia brasileira odeia as pessoas comuns, tem ojeriza do país onde está situada, sua finalidade é a normalização da opinião individual e como consequência a destruição da racionalidade – ela é a fonte de conhecimento de um turbilhão de zumbis famintos por ideias de barbárie sem fim.
Um faxineiro (pouca grana e muita merda para limpar e fazer) acende um fogo de artifício que acaba explodindo na cabeça errada, pois certamente o objetivo era acertar aquela chusma fardada que insiste em estourar bombas em qualquer protesto. A cabeça errada era olheiro de máquinas de ludibirar que esperavam mais uma vez mentir e criar sua própria versão da história para os milhões de zumbis que acreditam que os militares precisam voltar ao poder, mas foi diferente.
Numa irresponsabilidade o faxineiro destruiu a vida do funcionário de uma das organizações da fraude e uma mentira muito maior entrou em jogo com vários olhos/câmeras. Correram para jogar a culpa num grupo radical que defende a destruição de pequenos ícones desse sistema desumano. Foi uma avalanche de notícias criminalizando os Black Blocks. Mais tarde descobriu-se que não foram eles, mas a mídia já tinha feito seu serviço sujo de confundir, e a maioria dos mortos-vivos continuam associar Black Block à terrorista, sendo isto uma piada de mau gosto. No entanto, mais uma parte da gramática dos que detêm poder foi inculcada no miolo da multidão.
As ratazanas engravatadas saíram da caverna para aprovar leis que enjaulam qualquer um com pretexto de que são terroristas. Políticos sabem que todo esse azedume é fruto de suas políticas que favorecem eles próprios. Será que aprovam? De resto, continuamos a ter uma polícia assassina, um sistema social ineficiente e agora um faxineiro preso e um homem da câmera morto.

Amanhã acordarei e lembrarei o dístico: “Menos razão, mais bíblias e cassetetes!”.

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