terça-feira, 5 de julho de 2011

Música: Merzbow


“Não estamos diante de apenas um artista de música. Estamos, sim, próximos de uma experiência perturbadora onde nossos sentidos são demolidos”



Desde 79, mesma época em que o punk explodia e ganharia o mundo, no Japão surgia um nome que entraria na história da “música não conformista”. Masami Akita, nascido em Tóquio, deu forma a um projeto chamado Merzbow. Esse, com mais de trinta anos de existência golfando mais ou menos 500 discos (alguns limitados em irrisórias três cópias).
Recém saído da faculdade de artes Akita se inspiraria no projeto do artista alemão Kurt Schwitters, e utilizando os ideais dadaístas começou a produzir sons com sucata e outras parafernálias. Buscava criar uma sonoridade única, intensa e que seria cunhada mais tarde com o termo noise.
De lá para cá, dezenas de artistas realizaram trabalhos colaborativos com o artista japonês. Os gêneros vão desde música moderna, perpassando por free jazz e até rock progressivo.
Akita também escreveu 17 livros e vários artigos onde expôe sua visão de arte. Até o momento nenhum traduzido e publicado no Brasil.
Merzbow nunca amaciou seu som um só instante, a cada nova produção o que vamos encontrando são ruídos descontrolados, pré-gravações distorcidas, loops sobrepostos, feedbacks ásperos e vastas bricolagens. Enfim, um universo onde a criatividade é usada para causar sensações diferenciadas.
Dissonante de um mundo que prima por cópias de cópias, os temas expostos pelo projeto japonês, aparentemente, são contraditórios:  masoquismo, direitos dos animais, tortura, questões ambientais, pornografia oriental etc, são trabalhados com uma visão completamente fora do senso comum – melhor, não ocidental.
Distante do mundo permeado por clichês e rótulos, comportamentos esses que transformaram movimentos rebeldes na música em puro lixo tóxico. Tanto Merzbow como o cenário noise é constantemente distorcido e muito mal assimilado.
Basta notarmos o nível de ojeriza que este ultimatum da arte causa. Repulsa que nos limita a não ir além, pois condicionados por velhas fórmulas, somos apenas agentes do convencional.
O termo noise só ganhou maior aceitação quando bandas de rock e DJ’s começaram a inserir elementos ruidosos – exemplos são bandas como Sonic Youth, The Raveonetes e a dupla eletrônica J.U.S.T.I.C.E., só para citar alguns dos famosos.
Porém na ala mais radical, onde Merzbow está incluso, o estranhamento continua, ao menos em terras tupiniquins. Basta notarmos a quase inexistência de bandas que utilizam o noise como expressão musical no país.  
Esse sintoma é altamente compreensível, supondo que o país ainda não amadureceu o suficiente para fazer uma leitura mais apurada da falta de limites que a arte pode atingir.

Sem procurar culpados, ou respostas fáceis, vivemos num país onde a grande parte da população tem dificuldade em compreender um texto simples. O número de livros significativos são lidos por pequenos grupos, não é de se estranhar que até a liberdade criativa seja olhada com estranhamento.
A grande maioria, não conseguiu desenvolver uma percepção mais apurada de como podemos fazer várias leituras do que quer que seja.
O noise, ou música dissonante, está ainda, infelizmente, anos luz de ser compreendida como uma manifestação cultural no Brasil, limitando a pequenos guetos.
Merzbow é um bom início didático para quem quer se entranhar nesse mundo fantástico da música barulhenta. Além disso, é um dos noisemakers mais conhecidos do mundo. 



(2011) Merzbow – Yaho - Niwa

Disco  mixado em abril de 2011, contendo 4 faixas fazendo parte da série Climax. Recém saído do forno.





















Nenhum comentário:

Postar um comentário