Thörn é editor do fazine STORNO
Tradução feita pra este blogue
A primeira banda chamada de
industrial foi Throbbing Gristle. O grupo se formou com os restos de um grupo
performático conhecido como COUM de 1976. Os seus três membros abandonaram o
mundo da arte para analisar as possibilidades do mundo da música. Um dos membros, Genesis P. Orridge, em uma entrevista na
Re/Search/ 6/7 disse o seguinte quanto ao desejo do grupo: "Up till then
the music had been kind of based on the blues and slavery, and we thought it
was time to update it to at least Victorian times - you know, the Industrial
Revolution. /.../ I mean, we just thought there was a whole untapped area of
imagery and noise wich was suggested when we thought of Ðindustrialð." A
música e o estilo de Throbbing Gristle inspirou muitos outros a começar a
compor música industrial e pouco a pouco foi formado um cenário com selos,
bandas e fãs.
No final dos anos 60 e
início dos anos 80 começou a crescer uma forma de música industrial estruturada
com muito mais ruídos - a eletrônica de potência. Os primeiros artistas deste
gênero foram projetos como Whitehouse, Ramleh e Sutcliff Jugend. Se quisermos caracterizar
este gênero rapidamente, diríamos que é um zunido monótono com distorções,
baixos de baixa frequência, gritos distantes e em alguns momentos seleção de
vozes com música "normal". Esta música intensiva e difícil de escutar
tem muitas vezes andada de mãos dadas com ideias de extremismo político, ódio,
psicopatia, assassinos seriais, destruição e catástrofe.
Os herdeiros dos primeiros
grupos têm trabalhado em questões semelhantes e os últimos grupos como Grey
Wolves, Con-Dorn, Genocide Organ, Brighter Death Now e Anenzephalia utilizaram
muitas vezes filmes como parte evidente dos espetáculos ao vivo, com qual
frequência os antigos utilizavam estes efeitos eu não sei. No entanto,
atualmente são um componente óbvio nos concertos. As imagens ou os filmes exibidos
refletem, no geral, o interesse por temas supracitados. Imagens de guerra são
misturadas com vídeos documentais da Alemanha dos anos trinta. Às vezes, torna-se
evidente que o acaso prevalece nestas misturas. Durante um concerto/ataque de
Grey Wolves no festival, Heavy Eletronics Two days of agony, foram misturadas
imagens de guerra, destruição com
pornografia e a conhecida imagem da banana de Andy Warhol (do primeiro disco do
Velvet Underground and Nico). Isso seria uma referência exemplar? Parece
extremamente impossível, levando em conta como estes espetáculos costumam ser
escutados. As seleções de vozes geralmente tratam de assassinos, ou discursos
de Hitler. Esse jogo de imagens, vozes e música fazem que eu observe o
espetáculo como algo mais do que somente um concerto. Os grupos também tentam
ser algo mais que músicos. Querem aparecer como genocidas, psicopatas,
militares ou extremistas políticos. Genocide Organ, por exemplo, atuou muitas
vezes com capuzes, dando pauladas no ar e queimando imagens de Bill Clinton. Grey
Wolves quer dar uma aparência de grupo terrorista. No começo de um concerto
gritaram: "Grey Wolves na área!" Para mostrar que são mais que um
grupo, são um coletivo? Se autodefinem como terroristas da cultura e não
músicos ou compositores. É neste ângulo
das coisas que pretendo ver todos estes grupos, ou seja, em parte, como
artistas de perfomance.
O público conhece no geral
este olhar das coisas por meio dos discos e dos encartes. Assim, também, devem ter
a perspectiva que são mais atores e/ou ativistas que músicos normais. De certa
maneira os músicos se conectam ao mesmo tempo em que mantém uma distância da
tradição performática. Quero dizer que se conectam por meio de um grupo musical
e de filmes. São assim, justamente, a representação que me causa a sensação de
teatro e arte de ação, no qual eu vejo como uma forma de expressão baseada na
realidade. Na natureza da arte de ação está incluído ser real. Com-Dom se expressou da seguinte forma na Freak Animal
11 “We are like actors on the stage, playing a part, the difference being that
we have an agenda/an ulterior motive - actors for the most part don¹t.” Acredito
que está citação também reflete a maneira de pensar do Grey Wolves, pois eles
trabalham várias vezes juntos e fizeram ações que mostram uma similaridade de
ideias.
Qual é então a finalidade de
Com-Dom e Grey Wolves? Se observarmos abaixo das cascas de ambos os
extremismos, seja de esquerda ou de direita, encontraremos uma ideologia
sustentada em forma notavelmente individualista. Com-Dom escreve em seu
manifesto que a finalidade de suas ações não é propaganda política, mas sim uma
maneira de influenciar os povos, de mostrar uma realidade que existe e vai além
do cotidiano. Escreve (o projeto é apenas ele) em seu primeiro e mais
importante texto Statemente of Intent: “The aim is education - A necessary
process of de-conditioning. Heightening
individual awareness. Revealing the possibilities of existence. Exploring the
realities of absolute control.» Pretenciones parecidas tiene Grey Wolves: «Our
aim is to pollute the minds of the public, to sow the seeds of insanity into
society. /.../ We are working to erase the conforming instinct. To prevent
humanity from ever acting with a comon will.” (Manifesto do
Terrorismo Cultural).
Meu primeiro pensamento é
que esta dupla relação me faz lembrar-se da nova peça teatral de Lars Norén,
7:3, que na primavera passada despertou um grande debate. Há, aqui, uma
diferença notável. Em 7:3 os atores são de extrema direita e Com-Dom e Grey
Wolves afirmam ser nazistas, porém é bem duvidoso que sejam. A maior parte dos grupos restantes não são
tão abertos em relação à suas ideias, ainda que tentem atuar em um plano mais
ambíguo. Não se deve elucidar se são nazistas ou não, no aspecto moral na
utilização destas imagens sugestivas, vale a pena analisá-los. Pessoalmente
ponho em dúvida as expressões de Grey Wolves e outros grupos.
Este desejo de converter o
espetáculo em algo mais que tocar música é interessante já que esta ambição
existe quase totalmente dentro do ambiente da música eletrônica (ou
possivelmente também no rock psicodélico) ao menos dentro do underground. Um
conjunto punk jamais daria um concerto com jogo de imagens. Creio que em parte que
seria extremamente chato assistir gente apenas misturando sons, ao mesmo tempo é
divertido ver alguém que se entrega por completo a sua guitarra, seu baixo, sua
bateria e suas canções. Naturalmente que esta não é a única razão pela qual os
grupos em questão realizam espetáculos tipo performance, mas é uma ideia
interessante pensar que a utilização de filmes nasceu de uma necessidade
funcional.
A revolta autodestrutiva do rock
Iggy Pop começou cedo em sua carreira com
diversas atuações, mais ou menos sangrentas, no grupo The Stooges. Pop se autoflagelava de forma violenta com
garrafas e permitia que o guitarrista Ron Asheton, vestido com trajes nazistas,
o golpeasse com a guitarra. Ações provocativas que naturalmente os revelava
titulares. Durante os anos oitenta o vocalista GG Allin começou a repetir tais
ações. Se assistirmos o documentário Hated dirigido por Todd Philipps sobre a
vida e obra de Allin, ficaremos assombrados com o cenário criado pelo cantor; o
conjunto The Murder Junkies tocando músicas barulhentas e tortuosas enquanto GG
Allin,nu, grita sua letra, enfia o microfone no ânus e continua a cantar outra
canção, defeca no meio dos ouvintes, entra em violência física com o público
que está assistindo e é atacado pelo público. Assim eram os shows que
geralmente terminavam com a polícia prendendo as pessoas (durante sua vida
Allin foi várias vezes preso por uma variedade de delitos). A pergunta natural é por quê? O próprio cantor
via em suas atuações como uma reconstrução do Rock and Roll. Considerava que o
rock’n’roll deveria ser naturalmente agressivo, anti-tabu e deveria mudar a
sociedade. No documentário
supracitado ele dizia: “My messsage is a message of the rebellion. I¹m a voice
of the young America. My message is from the street. I take the street and put
it on the stage”. No texto semi manifesto chamado The GG Allin
Mission que foi publicado na Absurd 3 - Kalas Mag 2. Allin também escreveu: “Our society want to stop my
mission. They want to brainwash you and keep you locked into MTV and their
stagnating safe worlds. It¹s a plot to kill rock ¹n¹ roll. I am the savior
[sic]. That¹s why I am considered a threat to society./.../ We must live for
the rock ¹n¹ roll underground. It CAN be dark and dangerous again. It can be
threatening to our society as it was meant to be. IT
MUST BE UNCOM-PROMISING”. Desta maneira Allin se conecta em um plano real com
um cedo desejo artístico modernista. Porque enquanto os surrealistas e outros
diversos modernistas falavam em geral da rebelião e o questionamento das normas
da sociedade – Allin realizava ações. Isto mostra que talvez Allin tenha mais
em comum com artistas de ação como Chris Burden, Günther Brus e Rudolf Schwazkogler,
pois seus autoflagelos são claros antecessores destas ações autodestrutivas de
Allin. Isto não quer dizer que ele mesmo se via como um continuador deles. GG Allin não queria que seus concertos fossem
chamados de performance, mas sim de Rock and Roll, pois era rock que ele dizia
estar fazendo. O ataque de Allin tem também haver com os deslocados da
sociedade, os exibicionistas, os criminosos sexuais e uma série de
transtornados bem como artistas de performance. Som estes quem aparentemente GG
Allin quer que sejam vistos como seus claros antecessores interligados com
diversos músicos de rock como por exemplo Iggy Pop. Ele disse muitas vezes em
distintas entrevistas que seria um
assassino se não fosse músico.
Quando não sabemos escrever
exatamente sobre um artista, costuma-se dizer que sua vida e obra andam de mãos
dadas. São poucos os que esta frase cabe com exatidão como no caso de GG Allin.
Sobre seu próprio corpo ele diz
em Hated: “My body is the rock ¹n¹ roll temple and my flesh, blood and bodily
fluids are a communion to the people. My mind is a machine gun, my body the
bullets and the audience is the target”. Ainda que pareça cliché,
Allin mostra o fundo da força de ação. Havia prometido há muito tempo que se
mataria em alguma apresentação. O suicídio seria a última oferenda e manifesto
do rock’n’roll. As promessas seguiram até sua morte por overdose em 1993.
Os concertos de Allin
mostram o quanto extremo a arte de ação pode ser usando o corpo como material e
não estando nem desejando algo relacionado com a expressão do teatro
artificial. Isto o diferencia da maioria dos outros artistas provocativos do
rock como a celebridade vazia Marilyn Manson. Naturalmente que também é
discutível quão revolucionário e politicamente razoável é fazer os tipos de apresentações
que Allin fazia. É evidente a semelhança entra as retóricas de Com-Dom e Grey
Wolves com a de Allin. As três tem um especial apelo pela descrição
conspiradora do mundo. O mundo da cultura ocidental é uma máscara mentirosa e
controlada que necessita uma violenta limpeza, uma catarse, para abandonar esta
paz falsa. Se suas análises se parecem, as formas de expressão são
diferenciadas em sua intensidade. Com-Dom e Grey Woldes são muitos calmos em
suas representações, enquanto que Allin, ao menos em parte, expõe ao público um
banho de purificação, claro que não é certeza que surja efeito. É interessante
observar que o distinto punk vê suas representações como uma catarse (não se
expressava assim nunca, mas pode-se notar similaridades) já que isto que faz
podemos ligá-lo facilmente dentro de uma tradição artística. Dito de outro
modo, é possível que finalmente, queira ou não, Allin termine representado nos
museus, como a maioria dos que se rebela contra o estabelecimento social.
Paralelamente com GG Allin há um punhado de
músicos que têm atuado dentro da mesma tradição autodestrutiva. Por exemplo, o
jovem Ebbot Lundberg no conjunto Union Carbide Productions, o projeto de noise
norueguês Origami Replika e o projeto estadunidense Antiseen. No entanto é
Allin quem se tornou ícone do punk e quem fez mais ruído.
O artista de ruído.
Uma quantidade de músicos têm trabalhado o
ruído como base para sua criação musical durante o século vinte. Os futuristas
italianos foram os primeiros. Mas foi primeiro com John Cage e a música
concreta francesa que estas ideias fizeram a época, ao mesmo tempo em que se
compõe e se cria música com ruído, se atua. Como predecessores desta tradição
podemos ver conjuntos de rock como The Who que rompia com suas guitarras em cena,
sem esquecer Jimi Hendrix e sua guitarra em chamas no festival de Monterey em
1968, assim também o sueco Karl Erik Welin e seus ataques ao piano de cauda com
motosserra, metralhadora e unha de gato. A finalidade de tais ataques parecem
de todas maneiras ser mais simbólicas que musicais.
O projeto The Haters é um
conjunto contemporâneo inspirado na performance e com tendência ruidosa. Em uma
agenda de concertos extremamente rara publicada no fanzine ND 16, G.X. Larsen
em uma turnê pelos Estados Unidos e Europa, escreve o seguinte: “September 28,
1991 -Budapest, Over 200 people packed a small club to see four members of the
Haters tear paper and cut fabric and break wood and smash glass”. A agenda
continua a descrição bastante crítica e seca. Alguém se pergunta qual a
finalidade de suas ações. Realmente não me ocorre outra coisa que Larsen e sua
companhia estão encantados simplesmente em romper as coisas com o cenário, com
o que estou de acordo. Eu não haveria dado tanto valor à participação em um
grupo assim como vê-los atuar em pleno trabalho. Há algo de beleza, sujeira e
falta de pretensões na destruição por ela mesma.
Einstüzende Neubauten que
foi formado durante a primeira metade dos anos oitenta, trabalhava com uma
diversidade de instrumentos como sucatas, brocas, percussão metálica, serras
circulares, etc. Trabalhavam musicalmente tanto em estúdios como em apresentações,
sempre com este tipo de instrumentos. Nesse detalhe encontramos a característica
da performance e ação. Eu creio que provavelmente, o destaque a este detalhe no
trabalho de Einstürzende Neubauten nos joga um engano ao musical, já que pode
ser esquecido, mas de todas maneiras está ali.
Se Einstürzende Neubauten geralmente deveria ver-se como um conjunto
normal com tendências à performance, então ações de Guds söner (Leif Elgren e
Kent Tankred) deveriam ver-se como uma unidade.
Sons, objetos e atores
trabalham em conjunto para criar uma nova situação. Os objetos utilizados são
geralmente muito simples. Uma performance pode durar várias horas com eles
somente rastelando terra ou arrastando cadeiras pelo palco, esta ação cria sons naturalmente. Isto pode
ser ver isto como música, mas também é outra coisa. Em princípio se vê algo
cômico, logo após transforma-se em uma parte natural da realidade. Medita-se o
compasso do som das cadeiras arrastadas. Em Atalante 9, Guds söner escrevem o
seguinte sobre a finalidade do seu trabalho: “Tudo (querem dizer a produção do
grupo) constitui a base para inventar e revelar momentos inalcançáveis quando a
vida cotidiana ascende a uma união com a natureza heroica da vida interna”. Esta ideia de revalorizar a vida cotidiana, eu
vejo como uma herança do movimento Fluxus que queria integrar o happening e a
arte ao cotidiano. Devemos interpretar as cadeiras de Guds söner como um
desafio como nossa possibilidade de ter uma vida melhor? Eu não sei, mas gosto
muito do que fazem.
Guds söner é um dos melhores e mais
interessantes grupos nesta curta exposição de ações e arte dentro da música.
Sobretudo por suas ideias e suas práticas, além do mais por estar fora de
qualquer tentativa de classificação. Seria interessante que mais grupos
rompessem as convenções para colocar-se em um campo artístico sem fronteiras.
Desta maneira, creio que a performance e a arte de ação pode ser um exemplo
para os músicos pouco convencionais.
E o pateta do Varg Vikernes, novamente na mídia! Não entendo como esse tipo de imbecil se transforma em ícone de cultura pop, é triste dividir o planeta com essa gente...
ResponderExcluirNem sabia desta. Mas o Vikernes tem uma visão de mundo que, aparentemente, está voltando. Estas bobagens de raça melhor, país melhor, neofascismo e besteiras do tipo. Tudo confuso, misturado, entrecortado por um mundo que desistiu de ler História. Não é atoa que a mesma mídia imbecil, dá corda para tipos como Lobão e Roger. Transformam inúteis em ídolos, lembro bem de um monte de gente no colégio e faculdade idolatrando aquela merda com cartola chamado slash. Do outro lado saca isso: http://www.soma.am/noticia/fiz-tudo-o-que-poderia-e-o-mundo-nao-me-quer-diz-glenn-branca
ResponderExcluirO Glerm é uma versão 2.0 do Glenn Branca, é só substituir as guitarras por hardware livre
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