Se antes quase a totalidade
da galera do Hip Hop usava pick-ups amadoras e suas letras consistiam em narrar
dramaticamente suas vidas nas periferias apanhando de policiais, assistindo
seus companheiros sendo assassinados no mundo do crime, a relação da periferia com
drogas, etc. Narrativa esta que você encontra em grupos como Facção Central,
Face da Morte e mais recentemente A286. Hoje as letras de grupos atuais
retratam de forma icônica àquela vida. Parte do Hip Hop está em baladas com
grupos vestindo roupas descoladas estourando champanha enquanto um monte de
garotas e garotos com roupas coloridas cantam com os bracinhos para o alto em
estilo réveillon. Só notar o quanto de baladas extremamente caras grupos de Hip
Hop fazem shows. Parte do apoio vem
de gente pós-moderninha inserida na
universidade e muitos cantores de Hip Hop acham isto mais do que merecido. Bom,
democratizaram o consumismo irresponsável e isso é cool, mas para quem? O
garoto vítima de um sistema exclusivo à classe rica, agora sonha ser ela, do
mesmo jeito, com o mesmo comportamento.
O funk é outro gênero
surgido nas favelas seguindo caminho semelhante. Você pode conferir o que foi
parte do funk no documentário Febre de Funk. Hoje parte dele nominado Funk
Ostentação tem sido extremamente hostilizado pela classe rica, média e seus capachos
(de policiais militares à mídia) por causa dos seus “rolezinhos”. Irritados com
a garotada marrom e preta exibindo aparelhos ortodônticos que não precisam, camisetas
Abercrombie & Fitch, Mizuno nos pés, correntes de ouro, bonés esportivos,
entre outras bugigangas de ícones temporais criadas pela indústria
estadunidense. As classes supracitadas com seu racismo histórico não acha legal
ver o filho da empregada explorada e ama de leite andando com as roupas que ele mesmo usa.
A impressão dessas mudanças
dentro do Hip Hop e Funk transmitem implicitamente que não temos mais
periferias brasileiras, pois agora o Brasil tem guetos americanos. O atabaque, afoxé,
cuíca e tambores foram trocados por batidões pré-construídos por geeks. Entenda que não estou defendendo que a música
negra se limite a instrumentos acústicos. Nem estou defendendo a permanência do
caráter exótico como foi atribuída à “World Music”. Mas é superficial demais este cenário atual de negros brasileiros viverem semelhante ao seriado "Everybody Hates Chris". Vendido por eles mesmos.
A escola sempre responsável em
contar a verdadeira história distorcida, não interessa quase ninguém dentro
destes grupos. O ideal é a balada, a fotografia selfie e o Chandon. Mesmo que no
espaço escolar pudéssemos mudá-lo/destruí-lo e descobrir que tanto o funk
quanto o hip hop fazem parte de um movimento maior – o movimento musical negro
(jazz, soul, funk, reggae, samba, ska, pagode, etc). No entanto, o que é mais atrativo? O sorvete
do Mac Donald’s mais Iphone ou um livro do Milton Santos? Isso é só um exemplo!
A revolução não será
televisionada, não será lendo livros de História, nem por transmissão de
contracultura. A mudança agora virá com cliques em rede sociais, tlumbr com
arte bricolada, instagram, Twitter com frases de efeito e uns flash mobs na
praça de alimentação e se tudo der errado e esta moda passar inventamos outra,
e quem aspirava alguma mudança que não seja de roupa na periferia, justifica
dizendo que a culpa não é dela, nunca será dela e não pode ser dela. Espero que
este pensamento não seja semelhante ao: “Melhor não ser protagonista de nada,
assim a culpa nunca é nossa!”.
Por outro lado, o funk e o Hip
Hop sempre foram postos à margem pela mídia, pela direita e por parte da
esquerda no Brasil. Com esta moda de rolezinhos a imprensa (sempre servindo desinformação) inventa todo tipo de pretexto para justificar o preconceito e este
percorre os olhos do segurança do shopping, a vendedora de perfumes e o dono da
loja.
O que quase ninguém comenta
e crítica é que a ostentação sempre fez parte de uma classe social imbecil. Uma
classe que gosta de ostentar em Las Vegas jogando poker. Uma classe que sempre
fez rolezinhos indo para Miami se entupir de mercadorias “cool” ou ir para
França tomar vinho. Uma classe cínica e
egoísta que escreve colunas sociais preconceituosas em meio a propagandas de
empresas de turismo. Uma classe obtusa e safada que se apresenta na TV com seus
dentes brancos e braços anabolizados o que é chique. Enfim, a única coisa que
consigo enxergar é a vitória do consumismo irresponsável, democratizaram a
felicidade efêmera consumista. Eternizaram a tristeza da ostentação.
Desde Madrid, un abrazo y mi enhorabuena por el blog. A seguir dandole al buen ritmo eternizando tristezas.
ResponderExcluirObrigado Carlos, um abraço!!
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