terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tristeza ostentação

Se antes quase a totalidade da galera do Hip Hop usava pick-ups amadoras e suas letras consistiam em narrar dramaticamente suas vidas nas periferias apanhando de policiais, assistindo seus companheiros sendo assassinados no mundo do crime, a relação da periferia com drogas, etc. Narrativa esta que você encontra em grupos como Facção Central, Face da Morte e mais recentemente A286. Hoje as letras de grupos atuais retratam de forma icônica àquela vida. Parte do Hip Hop está em baladas com grupos vestindo roupas descoladas estourando champanha enquanto um monte de garotas e garotos com roupas coloridas cantam com os bracinhos para o alto em estilo réveillon. Só notar o quanto de baladas extremamente caras grupos de Hip Hop fazem shows. Parte do apoio vem
de gente pós-moderninha inserida na universidade e muitos cantores de Hip Hop acham isto mais do que merecido. Bom, democratizaram o consumismo irresponsável e isso é cool, mas para quem? O garoto vítima de um sistema exclusivo à classe rica, agora sonha ser ela, do mesmo jeito, com o mesmo comportamento.
O funk é outro gênero surgido nas favelas seguindo caminho semelhante. Você pode conferir o que foi parte do funk no documentário Febre de Funk. Hoje parte dele nominado Funk Ostentação tem sido extremamente hostilizado pela classe rica, média e seus capachos (de policiais militares à mídia) por causa dos seus “rolezinhos”. Irritados com a garotada marrom e preta exibindo aparelhos ortodônticos que não precisam, camisetas Abercrombie & Fitch, Mizuno nos pés, correntes de ouro, bonés esportivos, entre outras bugigangas de ícones temporais criadas pela indústria estadunidense. As classes supracitadas com seu racismo histórico não acha legal ver o filho da empregada explorada e ama de leite andando com as roupas que ele mesmo usa.
A impressão dessas mudanças dentro do Hip Hop e Funk transmitem implicitamente que não temos mais periferias brasileiras, pois agora o Brasil tem guetos americanos. O atabaque, afoxé, cuíca e tambores foram trocados por batidões pré-construídos por geeks.  Entenda que não estou defendendo que a música negra se limite a instrumentos acústicos. Nem estou defendendo a permanência do caráter exótico como foi atribuída à “World Music”. Mas é superficial demais este cenário atual de negros brasileiros viverem semelhante ao seriado "Everybody Hates Chris".  Vendido por eles mesmos.
A escola sempre responsável em contar a verdadeira história distorcida, não interessa quase ninguém dentro destes grupos. O ideal é a balada, a fotografia selfie e o Chandon. Mesmo que no espaço escolar pudéssemos mudá-lo/destruí-lo e descobrir que tanto o funk quanto o hip hop fazem parte de um movimento maior – o movimento musical negro (jazz, soul, funk, reggae, samba, ska, pagode, etc).  No entanto, o que é mais atrativo? O sorvete do Mac Donald’s mais Iphone ou um livro do Milton Santos? Isso é só um exemplo!
A revolução não será televisionada, não será lendo livros de História, nem por transmissão de contracultura. A mudança agora virá com cliques em rede sociais, tlumbr com arte bricolada, instagram, Twitter com frases de efeito e uns flash mobs na praça de alimentação e se tudo der errado e esta moda passar inventamos outra, e quem aspirava alguma mudança que não seja de roupa na periferia, justifica dizendo que a culpa não é dela, nunca será dela e não pode ser dela. Espero que este pensamento não seja semelhante ao: “Melhor não ser protagonista de nada, assim a culpa nunca é nossa!”.
Por outro lado, o funk e o Hip Hop sempre foram postos à margem pela mídia, pela direita e por parte da esquerda no Brasil. Com esta moda de rolezinhos a imprensa (sempre servindo desinformação) inventa todo tipo de pretexto para justificar o preconceito e este percorre os olhos do segurança do shopping, a vendedora de perfumes e o dono da loja.

O que quase ninguém comenta e crítica é que a ostentação sempre fez parte de uma classe social imbecil. Uma classe que gosta de ostentar em Las Vegas jogando poker. Uma classe que sempre fez rolezinhos indo para Miami se entupir de mercadorias “cool” ou ir para França tomar vinho.  Uma classe cínica e egoísta que escreve colunas sociais preconceituosas em meio a propagandas de empresas de turismo. Uma classe obtusa e safada que se apresenta na TV com seus dentes brancos e braços anabolizados o que é chique. Enfim, a única coisa que consigo enxergar é a vitória do consumismo irresponsável, democratizaram a felicidade efêmera consumista. Eternizaram a tristeza da ostentação. 

2 comentários:

  1. Desde Madrid, un abrazo y mi enhorabuena por el blog. A seguir dandole al buen ritmo eternizando tristezas.

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