sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Tantão e os fita - Drama

Tantão é o poeta surrealista da decadência em “Drama”, seu segundo álbum com o duo de beatmakers Os Fita. Lançado pelo selo QTV, o disco é um passeio cósmico pelo Rio de Janeiro que foi varrido para debaixo do tapete e está fora dos cartões postais. As sombras, os ruídos, os dramas políticos e psicossociais que tomam corpo em uma cidade nem tão maravilhosa que vive sob intervenção militar nas favelas e sob o domínio das milícias na administração do Estado. 

Gravado entre agosto e outubro de 2018 durante o turbilhão político da última eleição presidencial, o álbum captura a formação de novos medos, crises e dissonâncias — culturais, estéticas, políticas — no imaginário coletivo do Brasil. As letras evocam imagens e atmosferas penetrantes de paranoia intensa, incerteza claustrofóbica e polarização violenta.

“As letras trazem muitas referências da violência que o capitalismo avançado aplica no corpo do povo”, explica o produtor musical Abel Duarte. “Aqui no Brasil, país de ‘terceiro mundo’, dividido, subdesenvolvido, colônia, essa violência é praticamente inescapável. Isso tudo assumiu uma forma muita clara e direta nos últimos anos — pós-golpe — quando todos os últimos resquícios de uma certa segurança social e todo e qualquer mecanismo de proteção dos trabalhadores e principalmente das ‘minorias’ passaram a ser destruídos e atacados diretamente pelo próprio estado”.

Para dar forma ao conceito de “Drama”, o grupo ampliou as possibilidades abertas em “Espectro” (2017) e refinou sua sonoridade. Em termos musicais, os Fita conectam-se com a música de pista de diferentes cantos do mundo, tecendo uma rede eletrônica pop periférica que vai do funk 150 BPM das favelas do Rio ao kuduro angolano, passando ainda pelo footwork de Chicago e o grime de Londres. Contudo, nenhuma destas influências são aplicadas em sua forma literal e ortodoxa. Ao contrário, são ponto de partida para uma experimentação particular. “Não temos a pretensão de fundar gênero musical nenhum, talvez destruir alguns”, pontua Abel.

Entre camadas de samples, distorções, colagens e loops, Tantão e Os Fitas compõem a sua pista de dança apocalíptica.




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