Depois
dos enormes gastos para se eleger e a seus aliados políticos, o Governo Federal
implementa um ajuste fiscal de mais de R$ 100 bilhões, empurrando a conta para
cima dos trabalhadores e da população mais pobre. Os cortes atingem escolas,
universidades, direitos trabalhistas, projetos sociais e culturais. A inflação
eleva os preços de luz, água, passagens e aluguéis, fazendo o dinheiro trocar
das mãos dos mais pobres para as dos mais ricos.
Enquanto
PT e sua base usam o discurso do medo contra 'tucanos neoliberais', praticam a
cartilha tucana à risca, garantindo assim que, num ápice de exploração
capitalista, o mercado financeiro tome metade do dinheiro do país
através
do Sistema da Dívida. Em vez de políticas de combate à desigualdade social, garantem
lucros estratosféricos, com a maior taxa real de juros do planeta, para bancos
acusados de sonegação fiscal, ameaça de quebra da economia nacional e até mesmo
lavagem de dinheiro do alto escalão do tráfico de drogas.
Ao
invés de usufruirmos o “legado” da “Copa das Copas”, enfrentamos uma crise de
dimensões múltiplas. Econômica, que tira e precariza empregos, sacrificando os
que vivem da renda do trabalho. Ética e moral, com a corrupção sistêmica operada
por todos os partidos da casta, em conluio com grandes empresas e bancos
privados. Hídrica, causada não só pela incompetência e falta de planejamento de
governantes, mas também pela degradação de florestas, cerrados e rios, praticada
por um modelo de desenvolvimento baseado em megaprojetos lucrativos para
empreiteiras e no agronegócio de exportação.
Urbana, com cidades cada vez mais congestionadas, serviços de transporte, saúde
e educação cada vez mais precários, e a especulação imobiliária empurrando os
pobres para regiões cada vez mais distantes dos centros urbanos ou para a rua. Cívica,
de uma sociedade onde a população pobre e favelada é mantida sob permanente
intervenção armada do Estado, do tráfico ou das milícias, onde a juventude
(quase sempre negra) é vítima de genocídio e onde povos indígenas, comunidades
tradicionais e populações ribeirinhas são dizimados em nome de um
neodesenvolvimentismo que só beneficia
os grandes negócios. E toda essa lógica perversa e desumana se sustenta na
gestão autoritária da vida em sociedade. A governabilidade assume
a forma da violência que se faz presente no cotidiano de medo, isolamento e
culpa, e na violação impune de direitos da população. A conta aqui não é paga
apenas com dinheiro, mas também com sofrimento e sangue. O recente massacre de
Cabula, na Bahia, os mortos das favelas das metrópoles, os 50 mil homicídios
por ano, o abandono e o maltrato sistemático de pobres, negros, indígenas,
mulheres, crianças, idosos. Essa máquina de triturar gente continua sendo operada pela casta no poder, seja PT,
PMDB ou PSDB, não importa. Eles não nos representam; ao contrário, nos roubam,
silenciam e violentam. Estamos indignados e com muita razão. Temos o direito de
ocupar ruas, praças e redes e de exigir nossos direitos. Os caminhoneiros têm o
direito de levantar barreiras. Independente dos rumos da greve e da captura que
os patrões tentam empreender da luta, ela é justa. Os professores do Paraná e
toda a população que os apoia têm o direito de reclamar contra o governador,
inclusive pedir a sua saída. Os cidadãos nas ruas de São Paulo têm o direito de
exigir o acesso de todos à água. Os moradores do Complexo da Maré têm o direito
de se rebelar contra a ocupação militar que lhes ceifa vidas
e liberdades. Como serão justas outras greves e mobilizações por uma vida melhor,
sejam de categorias, de territórios ou da cidade como um todo. A sustentação
política e a legitimidade de qualquer governo ou político eleito consistem
sempre na aceitação dos cidadãos.
Entretanto,
governismo e PT, de maneira oportunista para tentar aglutinar suas tropas,
gritam “não ao golpe”. Depois de
fragilizarem a Petrobras, por negociatas particulares e péssimas escolhas
políticas, agora identificam o destino deles com o destino da Empresa e até da
democracia.
Querem
fazer da crise do PT uma crise de “toda” a esquerda, levando todo mundo para a
vala comum. Colocam assim em risco conquistas democráticas do último período,
abrindo a possibilidade de forças reacionárias hegemonizarem um próximo
processo de mobilização popular, como acontece na Venezuela.
NÓS
não aceitamos a falsa polarização entre dois partidos da mesma casta. Não
defenderemos um governo conservador, corrompido e à deriva. Tampouco cairemos
na cantilena de uma oposição reacionária que quer ocupar o Palácio do Planalto
para atender os mesmos privilégios de sempre, numa dança das cadeiras em que os
vencedores estão sempre a postos para administrar os interesses dos poderosos e
endinheirados. A corrupção é ética, moral e sistêmica: PT e PSDB são as duas
faces de um mesmo poder, aquele perfeitamente encarnado pelo oportunismo
fisiologista do PMDB. Essa é a Casta
que sempre está no governo, qualquer que seja o resultado das eleições! Nesse
cenário, não resta outro caminho a não
ser indignar-se e lutar contra um poder que nos oprime e explora.
NÓS
estamos com a multidão dos indignados contra um sistema político corrupto, onde
público e privado confundem-se em tenebrosas transações, a democracia é
corrompida e o bem comum privatizado em nome do interesse de poucos.
NÓS
estamos com a multidão dos indignados contra o aumento do custo de vida que
sacrifica a população mais pobre e a classe média.
NÓS
estamos com a multidão dos indignados contra o ataque aos direitos trabalhistas
e aos direitos a serviços públicos, à água, à liberdade, à própria vida.
Por
isso, indignados, gritamos: Dilma, PT, PMDB, PSDB e toda a casta não nos
representam!
Mas
a indignação, justa e legítima, precisa avançar na capacidade de criar uma
democracia real, regenerando suas instituições e impedindo que se tornem meras
correias de transmissão da casta de políticos e negócios. Esse é um
desafio
claro para este momento de lutas que se intensificam: substituir a crise do
poder por um poder de criar mudanças duradouras, institucionais. Ou seja: dar
sentidos positivos e construtivos as demandas sociais, o que depende de
nós, indignados.
Que
as ruas sejam tomadas pela multidão indignada para fazer um mundo novo.
Que
milhões de flores rompam o asfalto.
Que
possamos constituir a cidadania capaz de radicalizar a incipiente democracia
brasileira!
Vamos
multiplicar os círculos de cidadania, instituições horizontais capazes de
colocar a cidadania em primeiro lugar, e os direitos como base de um
desenvolvimento a partir de outros valores: os da vida e do bem viver !
Brasil
verão de 2015*
Escrito por várias mãos.
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