quarta-feira, 11 de março de 2015

Nós

Depois dos enormes gastos para se eleger e a seus aliados políticos, o Governo Federal implementa um ajuste fiscal de mais de R$ 100 bilhões, empurrando a conta para cima dos trabalhadores e da população mais pobre. Os cortes atingem escolas, universidades, direitos trabalhistas, projetos sociais e culturais. A inflação eleva os preços de luz, água, passagens e aluguéis, fazendo o dinheiro trocar das mãos dos mais pobres para as dos mais ricos.
Enquanto PT e sua base usam o discurso do medo contra 'tucanos neoliberais', praticam a cartilha tucana à risca, garantindo assim que, num ápice de exploração capitalista, o mercado financeiro tome metade do dinheiro do país
através do Sistema da Dívida. Em vez de políticas de combate à desigualdade social, garantem lucros estratosféricos, com a maior taxa real de juros do planeta, para bancos acusados de sonegação fiscal, ameaça de quebra da economia nacional e até mesmo lavagem de dinheiro do alto escalão do tráfico de drogas.
Ao invés de usufruirmos o “legado” da “Copa das Copas”, enfrentamos uma crise de dimensões múltiplas. Econômica, que tira e precariza empregos, sacrificando os que vivem da renda do trabalho. Ética e moral, com a corrupção sistêmica operada por todos os partidos da casta, em conluio com grandes empresas e bancos privados. Hídrica, causada não só pela incompetência e falta de planejamento de governantes, mas também pela degradação de florestas, cerrados e rios, praticada por um modelo de desenvolvimento baseado em megaprojetos lucrativos para empreiteiras e no agronegócio de exportação. Urbana, com cidades cada vez mais congestionadas, serviços de transporte, saúde e educação cada vez mais precários, e a especulação imobiliária empurrando os pobres para regiões cada vez mais distantes dos centros urbanos ou para a rua. Cívica, de uma sociedade onde a população pobre e favelada é mantida sob permanente intervenção armada do Estado, do tráfico ou das milícias, onde a juventude (quase sempre negra) é vítima de genocídio e onde povos indígenas, comunidades tradicionais e populações ribeirinhas são dizimados em nome de um neodesenvolvimentismo que só beneficia os grandes negócios. E toda essa lógica perversa e desumana se sustenta na gestão autoritária da vida em sociedade. A governabilidade assume a forma da violência que se faz presente no cotidiano de medo, isolamento e culpa, e na violação impune de direitos da população. A conta aqui não é paga apenas com dinheiro, mas também com sofrimento e sangue. O recente massacre de Cabula, na Bahia, os mortos das favelas das metrópoles, os 50 mil homicídios por ano, o abandono e o maltrato sistemático de pobres, negros, indígenas, mulheres, crianças, idosos. Essa máquina de triturar gente continua  sendo operada pela casta no poder, seja PT, PMDB ou PSDB, não importa. Eles não nos representam; ao contrário, nos roubam, silenciam e violentam. Estamos indignados e com muita razão. Temos o direito de ocupar ruas, praças e redes e de exigir nossos direitos. Os caminhoneiros têm o direito de levantar barreiras. Independente dos rumos da greve e da captura que os patrões tentam empreender da luta, ela é justa. Os professores do Paraná e toda a população que os apoia têm o direito de reclamar contra o governador, inclusive pedir a sua saída. Os cidadãos nas ruas de São Paulo têm o direito de exigir o acesso de todos à água. Os moradores do Complexo da Maré têm o direito de se rebelar contra a ocupação militar que lhes ceifa vidas e liberdades. Como serão justas outras greves e mobilizações por uma vida melhor, sejam de categorias, de territórios ou da cidade como um todo. A sustentação política e a legitimidade de qualquer governo ou político eleito consistem sempre na aceitação dos cidadãos.
Entretanto, governismo e PT, de maneira oportunista para tentar aglutinar suas tropas, gritam “não ao golpe”. Depois  de fragilizarem a Petrobras, por negociatas particulares e péssimas escolhas políticas, agora identificam o destino deles com o destino da Empresa e até da democracia.
Querem fazer da crise do PT uma crise de “toda” a esquerda, levando todo mundo para a vala comum. Colocam assim em risco conquistas democráticas do último período, abrindo a possibilidade de forças reacionárias hegemonizarem um próximo processo de mobilização popular, como acontece na Venezuela.
NÓS não aceitamos a falsa polarização entre dois partidos da mesma casta. Não defenderemos um governo conservador, corrompido e à deriva. Tampouco cairemos na cantilena de uma oposição reacionária que quer ocupar o Palácio do Planalto para atender os mesmos privilégios de sempre, numa dança das cadeiras em que os vencedores estão sempre a postos para administrar os interesses dos poderosos e endinheirados. A corrupção é ética, moral e sistêmica: PT e PSDB são as duas faces de um mesmo poder, aquele perfeitamente encarnado pelo oportunismo fisiologista do PMDB. Essa é a Casta que sempre está no governo, qualquer que seja o resultado das eleições! Nesse cenário, não resta outro caminho a  não ser indignar-se e lutar contra um poder que nos oprime e explora.
NÓS estamos com a multidão dos indignados contra um sistema político corrupto, onde público e privado confundem-se em tenebrosas transações, a democracia é corrompida e o bem comum privatizado em nome do interesse de poucos.
NÓS estamos com a multidão dos indignados contra o aumento do custo de vida que sacrifica a população mais pobre e a classe média.
NÓS estamos com a multidão dos indignados contra o ataque aos direitos trabalhistas e aos direitos a serviços públicos, à água, à liberdade, à própria vida.
Por isso, indignados, gritamos: Dilma, PT, PMDB, PSDB e toda a casta não nos representam!
Mas a indignação, justa e legítima, precisa avançar na capacidade de criar uma democracia real, regenerando suas instituições e impedindo que se tornem meras correias de transmissão da casta de políticos e negócios. Esse é um
desafio claro para este momento de lutas que se intensificam: substituir a crise do poder por um poder de criar mudanças duradouras, institucionais. Ou seja: dar sentidos positivos e construtivos as demandas sociais, o que depende de nós, indignados.
Que as ruas sejam tomadas pela multidão indignada para fazer um mundo novo.
Que milhões de flores rompam o asfalto.
Que possamos constituir a cidadania capaz de radicalizar a incipiente democracia brasileira!
Vamos multiplicar os círculos de cidadania, instituições horizontais capazes de colocar a cidadania em primeiro lugar, e os direitos como base de um desenvolvimento a partir de outros valores: os da vida e do bem viver !

Brasil verão de 2015*

Escrito por várias mãos.

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