Tem dias que o fim do dia é foda.
Eu andava puto com meu trampo. Tanto é que já escrevi vários artigos esculachando aquela merda neste blogue, mas deletei porque um camarada meu para sacanear começou a mandar os links para colegas de trabalho e o negócio começou entrar numa situação e vibe cultura dissonante. Depois de uns dois anos me acostumei com a servidão voluntária, o esquema autômato e a tendinite que ganhei no começo do ano. Além disso, atualmente, ninguém mais lê este blogue.
Mas eu parei de reclamar do trampo definitivamente numa quinta-feira de 2015. Tava um calor do caralho nesta cidade. Eu tinha passado a tarde inteira carregando livros empoeirados, cdr's sujos e caixas de papelão cheio de papel sulfite velho. Sentia-me imundo, cansado, irritado com poeira até na alma. Não importa que curso você faça, um dia você verá a inutilidade de trabalhar em algum escritório.
Deu 18 horas e um amigo me disse: Mano, vamos pro bar, quê dia filha da puta! O calor continuava violento, 32 graus, eu estava pingando poeira e suor e rumamos pro primeiro pé-sujo que encontramos. Era perto da rodoviária, o trânsito estava uma merda, mas a cerveja estava gelada e custava 4 reais a garrafa.
Foi quando vi dois caras adentrarem no bar com a cara dez vezes mais castigada que a minha. Um estava fantasiado de Teletubbies roxo (aquele que a molecada no final da década de 90 apelidou de Teletubbie viado) e outro cara fantasiado de Olívia do Popeye. Os dois carregavam um cano de pvc cimentado num cabo de vassoura com dezenas de algodões doce.
Depois de um tempo dentro do bar abordei os dois e perguntei como tinha sido as vendas. "Brother, eu andei o centro inteiro e fiquei umas cinco horas em pé na Boca Maldita, vendi só dois algodão doce, para um gordona que ficou com pena da gente. Deve ser as fantasias, moleque nenhum conhece esses personagens".
Os caras não tinham direito trabalhista nenhum, não tinham férias, não tinham recolhimento de FGTS ou plano de Saúde. Trabalhavam mais de doze horas por dia, iam pro bar todo final do dia para esquecer Curitiba.
Fiquei mal, fui pra casa refletindo, meu trabalho era brutalmente mais leve que aquilo, eu sou um privilegiado.
Plano de saúde corporativo me poupou de uma cilada no hospício. Galera internada pelo SUS come uma espécie de lavagem, com restos do almoço e janta das unidades com convênio. Medicação nem se fala, povo do SUS engole um kit básico de medicação de geração ultrapassada. Os remédios de penúltima geração somente para os conveniados. E de última geração, bom aí você vai ter que se consultar com um psiquiatra cobrando 200 a hora...
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