domingo, 8 de julho de 2012

Selos virtuais

Relatos de uma experiência com selos virtuais (netlabels)

16:15 - Gravamos guitarras em casa.
17:30 - Rua da Bahia tem bastante noise.
??:?? -(ainda sonho com uirapurus)
07:15 - levanto e a realidade é punk

Quando entendi as possibilidades eletrônicas da música, não demorou muito para me aprofundar na cultura da música eletrônica. Me interessava muito a ocupação de espaços físicos com musicas criadas em espaços virtuais, além da expansão “timbrística” possível com os instrumentos digitais ou analógicos manipulados eletronicamente. Depois de alguns anos fazendo festas em coletivos, casas e clubes; discotecando músicas piratas para públicos que hackeavam os costumes da tradicional família mineira, fui me cansando da transformação da cena eletrônica queer-libertina em patrocinados 130 bpms neotechno-liberais com entrega de cartelas na saída. A cena de música eletrônica cresceu, muitxs viraram djs, outrxs djs viraram donxs de clubes e poucxs passaram de consumidorxs digitais, piratas ou não, a produtorxs, críticxs e investigadores das
possibilidades da música eletrônica faça-você-mesmx.
A tirania da indústria fonográfica em relação a hierarquização do acesso pode ser contornada através de downloads piratas, entretanto, em seus outros aspectos manipuladores, segue firme e forte ditando os estilos musicais dominantes e as regras de como produzir, mixar, masterizar e tratar as produções sonoras de maneira a atropelar a experiência com produções em estúdios caseiros e softwares. Queria saber como é a musica eletrônica caseira e suas comunidades. Não a música eletrônica da academia eletroacústica ou a musica eletrônica gringa trazida pelos dj's e pelo beatport [Site de compra de música em formatos digitais com as tendências e top charts européias.], muito menos a produzida comercialmente para levar elementos e ritmos brasileiros pra fora ou trazer elementos de outras culturas de maneira a-crítica.
Me aprofundei na investigação das comunidades online e sites de música eletrônica não comercial que disponibilizassem downloads gratuitos. Grande parte dos selos encontrados eram de música experimental ou de alguma maneira extrema. Oscilavam entre gêneros e tags como breakcore, digital core, noise, 8bits, extreme computer music, glitch, circuit bending, handmade electronic music, microsound, soundscape, dubstep, etc. Ainda que tenha encontrado vários sites e selos digitais (netlabels) apenas a diferenciação do formato de disponibilização e download não eram suficientes para caracterizar a potencialidade desse universo. As mudanças tecnológicas são fatores determinantes na mudança do comportamento e o formato influi na produção do conteúdo
para além apenas da distribuição do produto final.
As netlabels [Também online label, web label, digi label , MP3 label ou download label] são plataformas online que distribuem conteúdo musical em formatos de audio digital como MP3, ogg, Vorbis, FLAC ou WAV para download. Embora alguns selos virtuais surjam no contexto da passagem do formato tradicional de um selo ou gravadora para o formato de distribuição online com conteúdo pago, existem netlabels que preferem disponibilizar seu conteúdo sob licenças de compartilhamento livre com apenas alguns ou nenhum dos direitos reservados. Além das netlabels tradicionais que seguem o formato dos selos comerciais, existe uma profusão de outras que tratam seus espaços virtuais como comunidades e não somente medeiam produtorxs e consumidorxs mas se baseiam na vivência dos caminhos cruzados da cultura DIY (faça-você-mesmo) e digital. Na verdade, antes de se estabelecerem paralelas aos selos comerciais nos anos 90 e 2000, algumas práticas digitais para o que viriam a ser as netlabels já se manifestavam no submundo dos hackers e programadorxs da década de 80. A demoscene [http://pt.wikipedia.org/wiki/Demoscene], principal exemplo desse histórico, através de selos online com identidade própria, organização interna e listas de referências distribuía suas músicas, partituras, samples e códigos para a comunidade [http://www.netaudio.es/blog/articulos/reflexion-%C2%BFque-es-un-netlabel/].
As relações que emergem dessas redes vêm da intersecção entre a vontade de arquivar, se apropriar e re-circular o conteúdo, da prática e promoção do DIY e o favorecimento da integração entre as mídias e o fluxo de idéias. A rede é uma forte ferramenta capaz de fazer semelhantes encontrarem-se em um mundo vasto, facilita o compartilhamento de informações e a construção de conhecimento de cunho coletivo. Todavia, o mais interessante é quando essas comunidades online transpõem suas relações digitais em encontros presenciais promovendo festivais, oficinas, download stations e festas de reapropriação de espaços públicos reforçando o commons (espaço comum).
As netlabels derivam de diversas práticas da cultura DIY pré-digital, e, dessa maneira compartilham não somente músicas como informações de produção, equipamentos, circuitos, programas, programações, esquemáticos, tutoriais, stencils, posters, zines, textos, além de seus próprios manifestos. Sabemos que a difusão de uma nova tecnologia não implica na substituição das tecnologias antigas e ficamos felizes de ter vivido ou conhecido outras redes e práticas autônomas, auto geridas, people-to-people. Na verdade, redes autônomas retro-alimentativas não são novidades da cibercultura. Alguns exemplos que influenciam o netlabelism (cultura das netlabels):
Fanzines
Já circulavam em feiras de ficção científica nos EUA desde 1940. São tipicamente editados por uma pessoa que desenvolve o próprio conteúdo ou uma seleção de diversxs autorxs que contribuem com publicações, editoriais, artigos, ilustrações, artes etc. O aspecto mais interessante do fanzine é que depende de poucxs ou nenhum intermediárix e nenhuma hierarquia entre a produção e consumo, entre a participação e integração dx leitxr e produtor. Além disso as contribuições não são remuneradas e as publicações geralmente são trocadas por obras semelhantes ou contribuições para outras edições. O primeiro fanzine brasileiro foi o Ficção, criado por Edson Rontani em 1965 em Piracicaba, São Paulo. Criado em uma época que o termo que definia produção independente era boletim, o fanzine trazia textos informativos e uma interessante relação de publicações brasileiras de quadrinhos desde 1905 [http://en.wikipedia.org/wiki/Fanzine].

Mail Art

Já na década de 1950 a Mail-Art, se consolidava como um meio de troca de objetos e publicações artísticas entre artistas norte-americanxs e europexs através do sistema postal. As trocas incluíam ilustrações, cartas, fanzines, carimbos, selos, estampas, entrevistas, fotos, nudez, objetos, cartões postais, falsos relatos e nomes, narrativas, partituras, poesia, etc. Uma máxima recorrente e manifestada sempre nas correspondências de Mail-Art era o termo senders-receive, ou remetentes-recebem significando que "uma pessoa não deve esperar receber mail-art a não ser que esteja disposta a participar ativamente no movimento de troca".
Cassette Culture
A partir dos anos 70 e 80 principalmente se refere ao intercâmbio de fitas K7 caseiras de
rock, música alternativa e experimental. Na Inglaterra e Estados Unidos o movimento teve
seu ápice na era do pós-punk devendo grande parte da abrangência de sua circulação
alimentadas pelos movimentos DIY e meios de divulgação associados a resenhas,
matérias e materiais disponibilizadas em fanzines, eventos, feiras e atividades
autônomas.
Links
A maioria das netlabels promove a publicação desterritorializada e lança sem vínculos de
nacionalidade. Em caráter de curiosidade, separamos algumas nacionais e latinoamericanas,
além de outras. Conheça você mesma algumas:

Edith Undo
Nesse artigo utilizamos a linguagem inclusiva, ou seja, a letra “X” substituirá os artigos femininos e masculinos nas palavras de modo que o gênero inclua diferentes sexos, não considerando o masculino como neutro e agente de todas as ações.
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Fonte: http://www.azucrinarecords.net/

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