Como já postado aqui, este
tipo de música/som/gênero esta repleto deste imaginário, tanto explícito como
implícito. Músicos experimentais, principalmente Throbbing Gristle, usaram a
simbologia do fascismo, alegando que eles desejavam desafiar preconceitos e criar
um público com a cabeça mais aberta. O punk fez uso extensivo da suástica como
parte de sua rejeição niilista de valores estabelecidos da sociedade, eles
sentiam a necessidade de explorar o inaceitável, a fim de expressar
adequadamente o seu desgosto com o mundo no qual estavam inseridos. Vítimas do
que eles viam como agressão autoritária, eles responderam, instintivamente,
refletindo a violência social na forma de um choque antissocial.
A banda avante-garde Laibach
adota uma aparência de totalitarismo para explorar tanto nossa sociedade
autoritária quanto a natureza, também autoritária, do "rock". Muitas
vezes acusados de serem fascistas, a ampla utilização do humor irônico
produzido pela banda, age como um lembrete de que eles não são o que parecem. O
grupo usa símbolos tanto do nazismo e da religião, e são claramente defensores
da ideia que para você destruir o Estado é necessário primeiro entrar e
compreendê-lo.
Outros projetos não usam um
imaginário superficial do fascismo, mas incorporam o verdadeiro Ethos da
ditadura na tentativa de provocar uma resposta e expor os mecanismos de
controle. Um exemplo inclui o projeto NON, que no início dos anos oitenta
tocava música rítmica extremamente alta. O público tinha a opção de fugir ou aceitar
e explorar o prazer da submissão.
Muitos grupos de Hardbeat
têm um estilo militar em sua adoção de disciplina extrema, e uma replicação de
tiques fascistas durantes as apresentações. Levando em conta que a maioria
deles professam ser contrários à ordem social existente, ainda assim, gastam
bastante tempo replicando seus estilos e símbolos. Bandas como Manufacture,
Front242, entre outras, usam ritmos militares, juntamente com trechos
religiosos. Assim, apresentam os dados brutos de suas info-ambientes sem
comentários. Nós "esperamos" que para entender essas bandas, aceite
ou não, embora essas bandas parecem ser fascistas, elas são na verdade uma oposição
ao fascismo. Inevitavelmente, elas atraem os neonazistas para este tipo de
música quer goste ou não. Até mesmo socialistas como Test Dept têm sido
descritos como "bandidos da nova esquerda", devido à raiva e
apresentações violentas.
Outros são mais duvidosos,
Death in June que em seus álbuns inserem caveiras, imagens rúnicas e estilos
paramilitares, e antes usava roupas militares nazis. O amor de gestos
aparentemente fascistas se estende até o que Death in June carinhosamente
descrevem como "O sonho europeu", uma supernação pancontinental.
Dependendo do seu ponto de vista isso pode parecer um objetivo nobre, uma
insanidade de direita, ou apenas um pedaço particular de ingenuidade do
romantismo. Dentro desta seara musical temos também Whitehouse e sua gravadora
Come Org uma retórica suficientemente extrema, não só em público, mas também no
privado que mesmo para a consciência liberal mais indulgente é permitido
duvidar. O racismo flagrante de Willian Bennet no Whithouse parece ter poucas
pretensões de ser uma crítica cultural sofisticada, apesar da ilusão de muitos
fãs*. Os eventos ao vivo do Whitehouse eram frequentemente envolvidos em
grandes doses de abuso racial, alienando muitos daqueles que eram
suficientemente liberais. E há outros: artistas da cultura cassete como o grupo
AWB, racistas de extrema direita, que optam em trabalhar no mundo da eletrônica
experimental e Con-Dorn, um projeto solo das ilhas britânicas que explora temas
de controle e domínio por meio da utilização de uma parede primitivista de
ruído. A cultura underground de cassete contém numerosos exemplos de artistas
que exploram este tipo de território, ao mesmo tempo que é uma expressão
válida, tudo começa aparecer sem imaginação como após um tempo ficou
comprovado.
Como o T.G. mostrou
claramente, o nazismo tem uma superfície muito elegante. O preto, vermelho e a
prata fazem um esquema de cores muito atraentes, a insígnia fascista são
símbolos extremamente poderosos. O imaginário pode ser rastreado até ao
movimento futurista italiano, com seu amor pela arte impressionante e dinâmica.
Muitos que usaram a suástica como Jim Thirlwell, do Foetus, explica seu uso
apenas em termos de um desejo de usar recursos visuais que ele gosta e acredita
que sejam psiquicamente ressonantes. Mesmo mais de quarenta anos depois que os
Aliados alegarem o fascismo estar morto, a imagem mantém o seu fascínio. O
extremismo de qualquer tipo reverbera no fundo de nossa psique; ele toca partes
do inconsciente que as filosofias mais moderadas não alcançam.
E, claro, os punks nos
lembram do quão provocativo a suástica permaneceu depois de muitos anos.
Jogando a própria merda de volta a garganta do establishment vigente tendo a
certeza de resultar em uma reação de náuseas. Para grupos com propósitos de
ultrajar a sociedade, o fascismo era uma arma poderosa. A ideia era fazer isso
mesmo, ou seja, os únicos métodos que você tem são os que as autoridades te
ensinaram.
É discutível se essas
táticas foram sempre produtivas. Certamente elas não mudaram o sistema, e
muitas vezes apenas reforçaram desejos repressivos. O desejo de choque parecia
frequentemente nascer de uma rejeição de uma sociedade do que qualquer
alternativa positiva. "Mamãe não nos deixará tocar então iremos
gritar" - isso é tudo o que essas provocações atingiram, às vezes. Nosso
ambiente é desagradável e destrutivo, mas como os gritos das crianças, nós não
sentimos que temos o poder de fazer algo sobre isso. Assim, o niilismo é a
única opção viável, repousando sobre uma falsa premissa. Nós não somos
impotentes, e aceitar o que somos e não fazer nada, ficar reclamando, só pode
retroceder as nossas chances de realizar nossos verdadeiros desejos. Niilismo é
contra-revolucionário, incapacitante, e nessa medida a adoção generalizada do
imaginário fascista como uma estratégia de choque esta condenada ao fracasso.
Além disso, ao adotar as táticas violentas do opressor, os punks e outros
manifestantes, começaram a perceber que eles não tinham alternativas para
oferecer, validando assim a opressão inicial. O Estado autoritário prospera em
rebeliões violentas, usando-a como sua própria justificação.
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