Sou militante há 32 anos, comecei a minha
militância no período da redemocratização, vivi muitas barbaridades nesse
período, principalmente em decorrência da
violência policial, quando a terrível ROTA viveu
anos de “muita matança” e amedrontava toda a juventude. Pensei que aqueles anos
seriam os piores, me enganei, veio a “democracia!” e as coisas ficaram
piores e houve mais evidências de que a democracia não viria como a
desejávamos. Surgiu a nossa Constituição que deixou a polícia militarizada e
autorizou as Forças Armadas intervirem para manter a ordem interna. Logo depois
Fernando Henrique Cardoso foi eleito e começou a perseguir os sindicatos,
colocando o exército para ocupar fábricas e a Petrobrás e ataques à organização
dos trabalhadores, foram diversos.
Esses foram os primeiros e mais graves, sinais de
que algo estava muito errado. O que veio depois, só foi a constatação de que
nós brasileiros não conseguiríamos vivenciar aquilo que o liberalismo
chama de democracia, ou democracia burguesa, já que o mínimo é garantido em uma
democracia burguesa, mesmo que saibamos que todas as benesses do estado são
direcionadas a burguesia e não a maioria do povo, que é a classe trabalhadora.
Nos últimos anos, foi ficando concreto que numa
sociedade de classes nunca vivenciaremos se quer a democracia que nos foi
oferecida. A cada dia acompanhávamos mais violações, como por exemplo,
mortes praticadas por agentes do estado, a maior do mundo, ou então, o
encarceramento em massa, somos o 3º país que mais encarcera no mundo, só perdendo para
os EUA e a China e o país que mais mata de forma violenta no mundo. 57 mil
pessoas morrem por ano no Brasil (oficialmente, sem contar as mortes
extra-oficiais), e em um país em guerra são 20 mil mortes por ano, segundo a
ONU.
Mas, em um país que caminha para o fechamento do
regime a passos largos, matar, prender e criminalizar é insuficiente, já que a
finalidade é calar as vozes que se levantam contra a impossibilidade de uma
vida com tanta opressão, em um estado assim, é necessário calar as consciências
para isso: só criminalizando-as.
É isso que vem ocorrendo no Brasil nesse último
ano, que depois das Insurgências de Junho despertou no povo brasileiro, e muito
fortemente na juventude, o desejo de lutar por outro mundo e não se calar
diante de tantas barbaridades.
Diante dessa nova situação, o estado brasileiro se
armou e passou a caçar nossos direitos civis, caçar a nossa liberdade e criminalizar a nossa consciência,
cometendo ainda mais crimes contra a humanidade.
Nesses últimos dias, prenderam mais criminosos de
consciência, que se juntaram aos milhares de presos políticos que temos no
país. E os movimentos no Brasil reagiram, realizando uma atividade pacífica de
desagravo e cobrança da soltura imediata dos presos de consciência existente no
Brasil, em especial um dos mais graves: Fábio Hideki.
No dia 01/07/2014 ocorreu um debate, o qual juntou
intelectuais, sindicalistas, estudantes, militantes de movimentos e
partidários, reuniu cerca de 500 pessoas em uma praça na cidade de São Paulo. A PM-
Policia Militar, estava em 1.000 policiais, que ameaçaram , provocaram,
prenderam e reprimiram barbaramente as pessoas que estavam ali para pensar
e denunciar o encarceramento por consciência de dois companheiros.
A estupidez dos PMs de Armaduras medievais, que nos
filmavam, acharcavam, humilhavam , chegou ao limite da sua estupidez e
arrogância, quando jogaram bombas de gás lacrimogênio nas proximidades do debate, que
fez com que as pessoas dispersassem e em sua saída, fossem presas as dezenas.
Naquele momento passei a pensar e me sentir como
deveriam se sentir os sul-africanos que viveram o apartheid, pensei nos
colombianos que vivem uma vida militarizada, pensei nos Palestinos da Faixa de
Gaza, pensei nos massacres da China, pensei na minha e na nossa impotência
diante das atrocidades que ali eram cometidas, sem que pudéssemos reagir e nem
queríamos, pois, afinal de contas, queríamos circular ideias para que a
estupidez do governo brasileiro, em particular naquele momento, do governador paulista,
o fascista Geraldo Alckimin, cessasse!
Nesse momento no Brasil, vivemos um desgoverno para
o povo e uma política de insegurança pública, bem como um sinistro avanço sobre
todxs aquelxs que incomodam o sistema, são os negrxs, os LGBTS, as
mulheres, os indígenas, as crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social, entre tantxs, que nos faz hoje ostentar diversas piores marcas de
violação de Direitos Humanos em comparação ao restante do mundo!
Por isso, não é impressionismo afirmar, estamos na
ditadura, hoje foi um dia que isso ficou bem claro! Estamos vivendo uma vida
militarizada em um país militarizado, que nos retira todos os nossos
direitos e cerceiam a nossa liberdade!
Givanildo Manoel da Silva (GIVA)
Militante e esperançoso na humanidade, mais não com
capitalismo!
P.S. O sentimento de impotência ao chegar em casa
aumentou, porque o que mais queria era escrever sobre o que vivi nesse dia, mas
recebo a triste noticia, que no estado da Bahia, mais um indígena Tupinambá
foi assassinado, assassinado em terras guardadas pelo estado, Força Nacional,
que deveria protegê-los e ao contrário, protege os interesses dos fazendeiros.
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