Joy Division Cover - 2015.
Há tempos as pessoas se pegam rotulando umas às outras. No início do
século passado, os Estados Unidos em crise, classes sociais empobrecidas e
postas à margem eram classificadas por termos infames. Nasce daí, por exemplo,
a cultura White trash na América e os Chav no Reino Unido. São também dessas
classes que surgem movimentos como Hobohemia no início do século XIV.
De lá pra cá as rotulações não pararam, um exemplo mais recente seria
alguns europeus racistas, pós ataque a um jornal satírico francês, ficarem
dizendo que isto seria coisa de “muzzies” ou “turtle cock”. Aproveitando o
ensejo vale dizer que a cultura árabe e muçulmana tem sofrido ataques de
preconceito há anos. Note-se que após o onze de setembro um senador
estadunidense disse algo como “Qualquer um usando fralda na cabeça deve ser
revistado”, caricaturando todo um povo e vários países como o mal planetário, o
que Bush chamou de “Eixo do Terror”.
Refletindo podemos inferir que dentro destas regiões, grupos, classes,
surgem culturas específicas. A cultura White trash é retratada em filmes como
Trash Humpers, Gummo, Kids e Suburbia. Mostra-se delinquência, relacionamentos
destrutivos, comportamentos antissociais e o deslocamento civilizacional desses grupos. Em
termos nacionais podemos pensar no funk carioca e o quanto ele agride e
incomoda afrescalhados culturais.
Dito isto, lançamos olhares à recente banda nascida em Curitiba – Joy
Division Cover. Até o momento foram duas apresentações que tem um quê do que
citei acima mais uma transfusão de pústulas da subcultura brasileira.
Basta lembrarmo-nos das cenas Flogger, Emo, Clubber, cosplayer, gótica
etc, e prestarmos atenção no vocalista gritando em tom irônico e rebelde “A
vida é má, estou sofrendo”. Isto sintetiza muita coisa.
O vocalista da banda esteticamente lembra muito o Roger Smith do The
Cure em suas performances melancólicas e sua cabeleira com laquê. O baixista
quando toca parece realmente o Ian Curtis tendo ataques epilépticos e o
guitarrista é um sushi man numa guitarra queimadora de amplificadores.
Estive em duas apresentações da banda e, se você ainda não viu, a banda
tocará no próximo domingo.
Na primeira apresentação o lugar estava tão escuro e cheio de gente que
me perdi bêbado dentro do apartamento onde ocorria a performance e quase pisei
na cabeça do vocalista que insistia em cantar deitado sentindo o chulé da
galera. Lembro que muitas pessoas sentiram-se ofendidas, mas “A vida é má, estou
sofrendo”.
A segunda apresentação era para ser na Praça de bolso do ciclista em um
tipo de happy hour Luther Blisset.
Sai do pelourinho e fui direto ao local da apresentação, o sol torrando
minha protuberante cabeça que pingava suor, cheguei à praça dez minutos antes e
todos descobriram que um operário tomando Brahma não sabia resolver a gambiarra
que fizeram e a praça toda estava sem energia.
Sem solução e com a praça cada vez lotada de fixeiros, garotas coldwave,
alcoólatras banguelas, manos, picaretas e modistas a banda sentenciou: “Será na
calçada do outro lado da rua”, e assim foi.
Arranjaram com uma idosa sua extensão de cortar grama, conectaram na
bicicletaria cultural e ligaram os equipamentos junto às caixas de feira.
Estava tudo pronto para a festa de arromba na calçada num clima de quarenta
graus sete horas da noite.
O som começa e o Roger Smith dos trópicos começa a sentar os dedos no
teclado Yamaha, o Ian Curtis em tons epilépticos começa a se jogar pra trás
batendo as costas no portão de uma loja e o Sushi man da guitarra conseguiu em
quinze segundos de apresentação fazer falecer um amplificador.
Senti um pouco de nervosismo na banda enquanto biarticulados cortavam a
rua em meio a um público até tímido/jacu se pensarmos que ali estava o puro creme
dos esquecidos e gente com mente torta.
Os equipamentos não estavam dando conta do barulho dos automóveis, do
operariado depressivo voltando para casa e a galera policultural que assistia e
circulava na área. Desta forma, era muito difícil entender o que o vocalista
dos Visions Cover gritava, mas ele falava da vida, sofrimento, drogas e
recuperação.
Em dez minutos de apresentação aparecem os anjos azuis, conhecidos como
guarda municipal e em algumas regiões da cidade como raça do caralho. Os
guardinhas de paróquia já chegaram irritados com armas taser em mão gritaram pra banda “Ou vocês tocam direito ou todo mundo vai tomar
eletrochoque”. A banda resolveu não tocar direito e a apresentação durou apenas
mais uma música. Após o vocalista agradeceu o público dizendo: “Nós não
gostamos de vocês, nós não gostamos de rock, nós não gostamos de Joy Division”
momento em que o baixista costurou “Obrigado!”. Aplausos foram ouvidos e o
cenário foi se desfazendo e o público outsider foi rumando aos bares para ficar
bêbado.
Repetindo, para quem ainda não viu esta miríade do underground, os
arautos do rock alternativo, próceres do cenário cultural curitibano, domingo
tem mais.
Onde? AOCA (Rua Treze de maio 600, centrão sujo de Curitiba).
Quanto? Dez reais que serão desviados para ajudar uma banda que está
vindo de São Paulo.
Que horas? O Boteco vai abrir 16 horas, às canções começam a ser
executadas pontualmente uma hora depois.
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oi você tem o contato da banda gostaria de saber a agenda gostaria de acompanhar a banda
ResponderExcluire parabens pelo blog sempre vejo
Oi, no Facebook procure pelo pessoal do Meia-Vida. Eles conhecem os integrantes.
ResponderExcluirObrigado por acompanhar. Abraços.